Por Rui Fernandes membro Comité Central do PCP
Camaradas e amigos,
Juntamo-nos aqui hoje para um
acto singular: inaugurar a exposição alusiva aos 90 anos do Partido Comunista Português. Singular porque é singular a existência de um Partido com tal idade.
Singular também pela coincidência de 20 anos depois e no ano dos 90 anos do
PCP, ter sido de novo eleito um deputado do PCP pelo Algarve em resultado das
últimas eleições legislativas.
Comemoramos assim, os 90
anos do Partido honrando a sua grandiosa história mas com os olhos postos no
futuro. Uma história de luta ao serviço dos trabalhadores e do povo. Uma
história cujos ensinamentos servem para a luta do presente, no quadro da
agudização da crise do capitalismo e do objectivo de que Portugal, retomando os
valores de Abril, reencontre o rumo para o seu desenvolvimento, tendo por
objectivo o vivermos numa terra sem amos.
Camaradas e amigos,
Foi num clima de ascenso
revolucionário em resultado das grandes lutas dos trabalhadores portugueses e
do impacto da Revolução de Outubro que o Partido se funda em 1921. Com a
reorganização de 1940/41 e a realização dos III e IV Congressos, o Partido
consolida-se e adopta um conjunto de princípios e praticas que melhor o
protegem da repressão e asseguram regularidade à edição clandestina da imprensa
do Partido, bem como avança de forma mais decidida para o seu enraizamento na
classe operária e nos trabalhadores.
Com o VI Congresso e o
Programa para a Revolução Democrática e Nacional, cujas orientações surgem com
o Rumo À Vitória, parte-se para uma outra fase da luta que haveria de ter
expressão na Revolução de Abril.
Ligado à vida, aos problemas
concretos dos trabalhadores e do povo, lutando pela unidade dos trabalhadores e
dando corpo a estruturas onde essa unidade ganhasse expressão, fosse no
movimento sindical, fosse no campesinato, fosse na área da cultura, na luta
pela Paz, ou em torno de outros problemas concretos, o Partido sempre se
empenhou na criação de uma ampla frente social contra o fascismo.
Tal política de unidade
nunca foi confundida com diluição do Partido e muito menos com menor atenção às
questões do seu reforço orgânico. E foi por isso que com a Revolução de Abril,
o Partido, as suas organizações, tiveram a capacidade de imediato passarem a
acção visando o objectivo de consolidação da Revolução mas também o seu avanço no
caminho progressista – nacionalizações, reforma agrária, direito à saúde, à
educação e à protecção social, controlo operário, poder local democrático,
foram, entre outras, marcas fundas do processo revolucionário e no regime
democrático que a Constituição de Abril consagrou.
Tal história, acção e
intervenção foi possível pelo acerto da linha política, pela ligação do Partido
às massas, pelos princípios ideológicos de que somos portadores, pelas regras
que nos regem enquanto Partido, pelo esforço abnegado de muitas centenas de
militantes que nas mais duras condições lutaram, resistiram e não perderam a
confiança nos resultados da luta.
De entre todos esses
valiosos militantes, e justo destacar o camarada Álvaro Cunhal pelas marcas
indeléveis que deixou no nosso Partido, pela obra teórica e o exemplo
inspirador que deixou para luta dos comunistas.
Exemplo, marca e obra
teórica que ganha nos tempos que correm particular importância face à ofensiva
que se abate sobre os trabalhadores e o povo português. Ofensiva que tem a
marca do sistema opressor e desumano do capitalismo.
Camaradas,
Vivemos um momento marcado por uma intensa
luta de classes e pela mais profunda crise do capitalismo desde 1921, crise que este pretende
resolver à custa da intensificação da exploração, da concentração e
centralização do capital, impondo enormes retrocessos e enormes sacrifícios aos
trabalhadores e outras camadas da população.
O grande capital sabe
que as medidas que tem vindo a tomar, e outras que estão a caminho, gerarão
mais desemprego e mais pobreza. Fazem o discurso das inevitabilidades, que o
FMI ajuda, que era o FMI ou o caos. Mas é falso! Nem o FMI ajuda, como se vê
pela Grécia, como há outro caminho. E para esse caminho há um eixo estratégico:
Produção Nacional. Não há saída sem revitalizar a agricultura, as pescas, a
indústria transformadora e a potenciação de outras virtualidades do nosso país
e do Algarve. Hoje muitos falam em Produção Nacional. Até organizam PICNICs com
o patrocínio de quem suga até ao tutano os produtores, aumentando assim os seus
lucros. Mas nós nunca nos cansámos de falar, de alertar de avisar para o
desastre para onde caminhava Portugal em virtude de uma adesão à União Europeia
e posteriormente à Moeda Única em condições desgraçadas para os interesses
nacionais.
A vida está a trazer à luz do dia, com todo o seu esplendor, a nossa
razão.
Desafios imensos estão e vão
estar colocados aos comunistas, mas também a muitos outros progressistas, na
luta contra as medidas de retrocesso social em preparação, mas também de
retrocesso político, económico e cultural. Continua cada vez mais válida a Tese
do nosso Partido de que o ataque a uma das componentes do nosso sistema
democrático se traduz em ataques às restantes componentes desse sistema. Querem
atacar ainda mais os direitos dos trabalhadores, mas também os pilares sociais
do Estado saído de Abril, alterar leis eleitorais, rever a Constituição da
República, alienar mais fatias danossa soberania. Responder a
esses desafios coloca como ainda mais necessário o reforço da nossa coesão e a
intensificação da nossa intervenção, do esclarecimento, do contacto com os
trabalhadores e as populações.
Sim! Ao contrário do que é
dito e redito, há um Partido diferente, o nosso Partido, o PCP.
Viva os 90 anos do Partido
Comunista Português!