Intervenção
de Jerónimo de Sousa na Assembleia de República
"Não calam a censura.
Ela está na rua e tal como o mundo,
move-se!"
Segunda 25 de Junho de 2012
Senhora
Presidente,
Senhor Primeiro-ministro,
Senhores membros do Governo,
Senhores Deputados:
Senhor Primeiro-ministro,
Senhores membros do Governo,
Senhores Deputados:
Um ano é um
tempo curto em termos históricos ou mesmo inserido num processo que dura há
mais de 35 anos de política de direita. Mas é tempo suficiente para analisar e
julgar este Governo. Partindo, não da retórica parlamentar, mas da realidade,
para saber e precisar onde estamos, para onde vamos, como vai a vida do país e
de milhões de portugueses depois de um ano de aplicação do Pacto de Agressão,
denominado de memorando e da mal chamada ajuda externa.
Pegando por
onde pegarmos, seja no plano político, económico, social ou cultural, seja no
plano da soberania nacional, não é excessivo dizer que este governo onde tocou,
estragou! Fosse exercitando e aplicando medidas que decorrem desse Pacto de
Agressão, fosse agindo por conta própria!
O que é novo
não é a ofensiva contra os trabalhadores e as populações! O que é novo é a sua
dimensão e profundidade em que salvo uma minoria de poderosos não há sectores,
classes e camadas sociais que escapem à agressão dos seus direitos, das suas
vidas. E falamos dos trabalhadores, dos reformados e pensionistas, dos membros
das forças de segurança, dos militares, dos micro e pequenos empresários, agricultores
ou comerciantes. Falamos particularmente da juventude e das novas gerações!
Pudessem eles estar aqui nesta tribuna e, decerto, se entenderia melhor as
razões desta Moção de Censura.
A
propaganda, a ideologia das inevitabilidades, visando instalar a resignação e o
medo cada vez mais se confronta com a realidade, com a indignação e a revolta,
com a luta, com a elevação da consciência e da necessidade de dizer basta!
Que
realidade é essa?
Um ano
dobrado, a recessão económica profunda que o país atravessa tem como
consequência a mais elevada taxa de desemprego das últimas décadas – mais de um
milhão e duzentos mil desempregados, dos quais menos de 300 mil têm subsídio de
desemprego. Este imenso flagelo social, com agravada incidência nas novas
gerações, é a principal marca da política de direita aplicada pelo Governo.
No ano que
decorreu, as micro, pequenas e médias empresas foram severamente penalizadas
pela política económica do Governo. Longe vão os discursos do PSD e do CDS
nesta Assembleia, em que afirmavam o seu empenho no apoio às pequenas empresas.
A política deste Governo faz exatamente o contrário: retira-lhes mercado
interno, aumenta-lhes a carga fiscal, cede aos interesses dos grandes grupos
económicos.
A política
do Governo visa baixar drasticamente os salários dos trabalhadores.
Desde logo
por cortes diretos no salário, como ainda esta semana se concretizou com o
subsídio de férias de milhares de trabalhadores da administração pública, de
pensionistas e reformados. Mas também pela diminuição do acesso ao subsídio de
desemprego, que visa obrigar a aceitação de salários cada vez mais baixos.
Tudo isto
num país em que um terço dos trabalhadores ganha menos de 600 euros e em que
mais de 600 mil, número que duplicou em quatro anos, recebem apenas o salário
mínimo nacional.
Não é com
baixos salários que a nossa economia se vai tornar mais competitiva; não é com
baixos salários que se salvam empresas a braços com elevadíssimos custos de
produção na energia, nos combustíveis, no crédito.
E enquanto o
país se afunda, o Primeiro-ministro anda pelo mundo a vender o património de
todos os portugueses, a anunciar que estão em saldo empresas fundamentais para
a nossa soberania e para a nossa economia que o Governo quer pôr, tal como já
fez com a EDP ou a GALP, ao serviço do lucro dos grandes grupos económicos
estrangeiros!
Perante a
gravíssima situação económica do país, o desemprego, a baixa generalizada dos
salários perguntamos: é ou não necessário censurar esta política e este
Governo?
Mas este
Governo e a sua política tem também em curso um programa de destruição em massa
dos direitos dos portugueses.
Em primeiro
lugar dos trabalhadores. As alterações ao Código do Trabalho, aprovadas com a
conivência do PS e promulgadas pelo Presidente da República – em clara violação
da Constituição -, pretendem impor um profundo retrocesso nas relações
laborais. Facilitar e embaratecer os despedimentos, aumentar o horário de
trabalho, eliminar feriados, reduzir o valor das horas extraordinárias, atacar
a contratação coletiva, são alterações que deixam bem à vista os objetivos
fundamentais desta política: aumentar a precariedade, desproteger os
trabalhadores perante a arbitrariedade patronal, retirar direitos conquistados
pela luta e consagrados na lei e nos contratos coletivos, obrigar a mais
trabalho por menos salário.
Outros
direitos estão na mira deste Governo, da sua política e do pacto de agressão.
O direito à
saúde, que depende da existência de um Serviço Nacional de Saúde forte e
qualificado. Mas o que está a acontecer é o contrário. Cada vez a saúde é paga
em maior percentagem; cada vez o acesso é mais difícil; encerram-se serviços,
hospitais e unidades de saúde em todo o país; atacam-se carreiras profissionais
e fomenta-se o trabalho precário e menos qualificado; e o Governo já fala em
garantir à população apenas uma parte dos cuidados de saúde.
Na escola
pública prossegue a política de desinvestimento, de empobrecimento curricular,
de despedimento e não contratação de professores, funcionários não docentes e
outros técnicos. Uma política que visa acentuar a elitização do ensino, de
forma a garantir mão-de-obra barata para a exploração e a reservar os graus
mais elevados de ensino apenas para quem tem condições socioeconómicas
privilegiadas.
Continua a
limitar-se o acesso às prestações sociais, num momento em que se devia
alarga-lo, tendo em conta a difícil situação económica e social que vivemos.
Continua o ataque às pensões e reformas e a manutenção da sua maioria abaixo do
limiar de pobreza. Continua o ataque aos serviços públicos como no encerramento
de tribunais e de diversas repartições públicas.
São razões
mais do que suficientes para censurar este Governo e esta política!
A publicação
dos dados da execução orçamental veio mais uma vez confirmar que, com tão
profunda recessão económica, não há maneira de se atingirem os absurdos
objetivos de diminuição do défice orçamental assumidos pelo Governo. Não
defendemos uma política de permanente agravamento do défice orçamental. Mas não
se pode sacrificar a economia ao défice; o que é preciso é conter o défice com
crescimento económico.
O Governo
quer fazer ao contrário: reduzir o défice cortando na despesa e aumentando os
impostos. Só que o corte na despesa, no investimento e nos salários, pensões e
reformas fomenta a recessão e diminui a receita do Estado. E se o Governo
insiste nesta política, precisa de dizer aos portugueses onde vai dar novo
corte nos seus rendimentos e nos seus direitos.
O mesmo se
diga em relação à dívida pública. É que ela está a crescer e vai continuar a
crescer, tal como o serviço da dívida, esgotando recursos indispensáveis para o
crescimento económico e para acudir à situação social. E é evidente que,
continuando a deixar o país, no quadro da União económica e Monetária, dependente
dos mercados financeiros e da sua especulação, a situação em 2014 não será
muito diferente da que tínhamos em 2010, no que diz respeito ao financiamento
do Estado.
É hoje
evidente para todos que sem a renegociação da dívida – nos seus prazos, taxas e
montantes - o pacto de agressão assinado com a troica por PS, PSD e CDS, vai
levar ao não pagamento e à tentativa de imposição de um novo programa contra o
país e os portugueses. A dívida pública só poderá ser paga se houver
crescimento económico.
Mas esta
moção de censura exprime também um profundo sentimento de rejeição e indignação
com a continuada política de favorecimento da banca e dos grandes grupos
económicos. Os principais responsáveis pela crise, que aumentam os seus lucros
à custa da economia nacional, que esmagam os sectores produtivos, são os que
continuam a embolsar milhares de milhões de euros à custa do país.
Censuramos o
Governo e a sua política porque não podemos aceitar que os mesmos de sempre
continuem a enriquecer e a concentrar a riqueza à custa dos trabalhadores e do
povo português.
Esta moção
de censura, que dá expressão à inequívoca censura popular que encontramos por
todo o país, é uma moção contra a política de direita e o Governo que a aplica.
É uma moção de rejeição do pacto de agressão que afunda o país. É uma moção de
exigência de uma nova política, patriótica e de esquerda.
Para alguns
esta moção de censura é inoportuna porque o país não precisa de instabilidade.
Mas que estabilidade existe para os milhões de portugueses que estão
desempregados, cujo salário é diminuído e roubado, que se vêm empurrados mais
uma vez para a emigração, a insolvência, a ficar sem casa, que não têm acesso à
saúde ou à educação, que estão na pobreza?
Para outros
a moção de censura é inconsequente. Mas a verdade é que a base social e
eleitoral que elegeu esta maioria há muito se esboroou e que hoje o
descontentamento e a consciência de que a política deste Governo continuará a
agravar os problemas do país são sem dúvida maioritários. É por isso que se alarga
e se multiplica a luta e a contestação ao Governo e a esta política.
Para outros
ainda esta moção de censura seria uma qualquer tática de antecipação ou de
condicionamento deste ou daquele partido. Mas é o Governo PSD/CDS quem aplica a
política de direita neste momento, independentemente das responsabilidades de
todos os que subscreverem o pacto de agressão.
Quem
pretende reduzir este debate e esta moção a uma qualquer táctica política, não
conhece e não percebe a situação dramática em que se encontram o país e a
maioria dos portugueses.
O país está
farto desta política do passado e está farto deste Governo!
Com esta
moção de censura não nos limitamos contudo a censurar o Governo e a rejeitar o
pacto de agressão. Esta censura é em simultâneo uma exigência e uma afirmação
da necessidade de uma outra política.
Sim, há
alternativa!
Uma política
alternativa que exige a renegociação da dívida, uma aposta decisiva na produção
nacional, a valorização do trabalho, dos direitos dos trabalhadores e dos seus
salários. Uma política que apoie as micro, pequenas e médias empresas e
produtores e os defenda da tirania dos grandes grupos económicos. Uma política
que olhe para os direitos e para os sectores sociais, como a saúde ou a
educação, como um investimento no progresso e no desenvolvimento e apoie o
acesso à cultura e a criação artística. Uma política de defesa da soberania e
dos interesses nacionais.
Uma política
que é possível e mais do que possível é indispensável se quisermos resgatar o
nosso país do declínio, da pobreza e da injustiça.
Pode a
correlação de forças aqui na Assembleia não deixar passar a Moção, mas não
derrotam, nem calam a censura. Ela está lá fora e a realidade, tal como o
mundo, move-se! Ou julgam que não?
Disse.
Ver aqui: http://www.pcp.pt/node/257473
Intervenção de Agostinho Lopes na Assembleia de República
"Somos governados pela política de fascismo económico"
Ver aqui:http://www.pcp.pt/node/257474
Intervenção de Bernardino Soares na Assembleia de República
"Uma política que rouba o presente e o futuro, não serve o povo nem o progresso do país."
Ver aqui: http://www.pcp.pt/node/257475
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