O Tempo dos Chacais
(opinião por José Veloso)
Não estamos em tempos de linguagens polidas, na classificação
do que está já em curso para o nosso País.
É preciso ser claro, vão haver vencidos e vencedores, nesta batalha
implacável contra os que querem a sociedade neoliberal, sem regras, sem ética,
do cada um por si. A sociedade da violência material, que conduz à violência
social. Onde se faz desaparecer a solidariedade, inerente à natureza humana,
substituída pela competitividade sem freio, desde os bancos da escola até ao
local de trabalho, na ferocidade do objectivo do sucesso pessoal, expresso na
imagem exterior, igual à do vizinho que espelha e exibe o sucesso.
E trouxe o tempo dos chacais, os que, embora tendo os mesmos
objectivos de sobrevivência, não têm a clareza dos lobos, que se assumem, na
frente dos ataques a que a fome os conduz.
Não, esses, os chacais, aparecem atrás, manhosos, rasteiros,
cobardes, em busca dos restos, na gula com que se contentam, das sobras que os
lobos já não querem, e dizendo, a si próprios, que assim conseguem o mesmo que
os lobos, que invejam.
Pois isto, é o que vemos, hoje, neste nosso vulnerável País,
feito terreno de caça livre para os lobos, onde actua uma lúcida alcateia
esfomeada, que sabiamente soube esperar pelo momento propício para atacar
vítimas previamente identificadas. Com eficazes meios de não deixar margem de
defesa aos alvos escolhidos, sempre os melhores num pacífico e indefeso grupo
que se julgava tranquilo e protegido.
E vemos perfilados, nos seus impiedosos apetites, prontos a
sugar até ao limite os restos das vítimas, os chacais aproveitadores do festim
dos lobos, mas que o povo vai pagar.
Que ninguém se iluda, principalmente os de boa-fé. Que
ninguém deixe de reparar que ninguém explica a necessidade da espoliação dos
bens públicos pelos privados. Que ninguém está a explicar qual é a vantagem dos
serviços públicos deixarem de servir o interesse colectivo, e passarem a dar
lucro aos privados. Que não se explica como é que, assim, vai diminuir o imenso
fosso entre ricos e pobres. Que ninguém explica como é que o povo vai
beneficiar com os despedimentos na função pública, e nos organismos do Estado
que vão ser vendidos aos privados. Ou ainda com a perda de direitos dos
trabalhadores, o pagamento de horas extraordinárias não em dinheiro, mas em
horas de férias. E muito mais fica por explicar, como as burlas no BPN e BPP
serem pagas pelo povo.
Não explicam, só dizem que é preciso, que é o deficit (o quê?),
que é a crise, coisa que também não explicam (pudera, foram eles que a fizeram,
para agora lucrarem com ela!).
É preciso?
Não, não é, isso é mentira.
Os trabalhadores da função pública, são gente séria,
competente, dedicada e atenciosa, no seu trabalho para o bem público. Com as
privatizações, vão passar a sofrer as arbitrariedades, as prepotências, os
despedimentos aos 40 anos, as exigências abusivas de patrões capitalistas,
agora chamados empresários. E o povo vai passar a suportar serviços piores,
caros, e menos acessíveis. O Serviço Nacional de Saúde vai ser o mais terrível
exemplo.
Os responsáveis ao mais alto nível, mentem sem vergonha, para
manter a seráfica imagem de impolutos e preocupados com o bem-estar material e
social dos que produzem as mais valias de que os lobos se apropriam como
lucros. Basta ver como já começou a limpeza dos incómodos e dos indesejáveis em
meios de comunicação social, enquanto ambiciosos serventuários lá fazem o
trabalho sujo da mistificação e ludíbrio público. E ver a pressa pública de
excitadas personagens a transitar para o “menos Estado” que execravam,
incensando, agora, o neoliberalismo coveiro do Estado Social ao serviço do
povo, que exaltavam.
Os lobos atacam, é o tempo dos chacais.
Há que combater.
José Veloso, Julho 2011
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