domingo, 3 de julho de 2011

O TEMPO DOS CHACAIS


O Tempo dos Chacais                                                                  

 (opinião por José Veloso)                           

Não estamos em tempos de linguagens polidas, na classificação do que está já em curso para o nosso País.  É preciso ser claro, vão haver vencidos e vencedores, nesta batalha implacável contra os que querem a sociedade neoliberal, sem regras, sem ética, do cada um por si. A sociedade da violência material, que conduz à violência social. Onde se faz desaparecer a solidariedade, inerente à natureza humana, substituída pela competitividade sem freio, desde os bancos da escola até ao local de trabalho, na ferocidade do objectivo do sucesso pessoal, expresso na imagem exterior, igual à do vizinho que espelha e exibe o sucesso.                 

E trouxe o tempo dos chacais, os que, embora tendo os mesmos objectivos de sobrevivência, não têm a clareza dos lobos, que se assumem, na frente dos ataques a que a fome os conduz. 

Não, esses, os chacais, aparecem atrás, manhosos, rasteiros, cobardes, em busca dos restos, na gula com que se contentam, das sobras que os lobos já não querem, e dizendo, a si próprios, que assim conseguem o mesmo que os lobos, que invejam.

Pois isto, é o que vemos, hoje, neste nosso vulnerável País, feito terreno de caça livre para os lobos, onde actua uma lúcida alcateia esfomeada, que sabiamente soube esperar pelo momento propício para atacar vítimas previamente identificadas. Com eficazes meios de não deixar margem de defesa aos alvos escolhidos, sempre os melhores num pacífico e indefeso grupo que se julgava tranquilo e protegido. 
 
E vemos perfilados, nos seus impiedosos apetites, prontos a sugar até ao limite os restos das vítimas, os chacais aproveitadores do festim dos lobos, mas que o povo vai pagar. 
  
Que ninguém se iluda, principalmente os de boa-fé. Que ninguém deixe de reparar que ninguém explica a necessidade da espoliação dos bens públicos pelos privados. Que ninguém está a explicar qual é a vantagem dos serviços públicos deixarem de servir o interesse colectivo, e passarem a dar lucro aos privados. Que não se explica como é que, assim, vai diminuir o imenso fosso entre ricos e pobres. Que ninguém explica como é que o povo vai beneficiar com os despedimentos na função pública, e nos organismos do Estado que vão ser vendidos aos privados. Ou ainda com a perda de direitos dos trabalhadores, o pagamento de horas extraordinárias não em dinheiro, mas em horas de férias. E muito mais fica por explicar, como as burlas no BPN e BPP serem pagas pelo povo. 

Não explicam, só dizem que é preciso, que é o deficit (o quê?), que é a crise, coisa que também não explicam (pudera, foram eles que a fizeram, para agora lucrarem com ela!). 

É preciso?  
Não, não é, isso é mentira.  

Os trabalhadores da função pública, são gente séria, competente, dedicada e atenciosa, no seu trabalho para o bem público. Com as privatizações, vão passar a sofrer as arbitrariedades, as prepotências, os despedimentos aos 40 anos, as exigências abusivas de patrões capitalistas, agora chamados empresários. E o povo vai passar a suportar serviços piores, caros, e menos acessíveis. O Serviço Nacional de Saúde vai ser o mais terrível exemplo.

Os responsáveis ao mais alto nível, mentem sem vergonha, para manter a seráfica imagem de impolutos e preocupados com o bem-estar material e social dos que produzem as mais valias de que os lobos se apropriam como lucros. Basta ver como já começou a limpeza dos incómodos e dos indesejáveis em meios de comunicação social, enquanto ambiciosos serventuários lá fazem o trabalho sujo da mistificação e ludíbrio público. E ver a pressa pública de excitadas personagens a transitar para o “menos Estado” que execravam, incensando, agora, o neoliberalismo coveiro do Estado Social ao serviço do povo, que exaltavam.

Os lobos atacam, é o tempo dos chacais.
Há que combater.


José Veloso, Julho 2011


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