PCP propõe a Renegociação da Dívida Pública e o Desenvolvimento da Produção Nacional
Intervenção
de Agostinho Lopes na Assembleia de República
Quarta 20 de
Julho de 2011
Sra.Presidente
Sras. e Srs. Deputados
Sras. e Srs. Deputados
A 5 de Abril de 2011, vésperas do pedido do Governo PS
de intervenção externa, o PCP avançou com a proposta da renegociação da dívida
pública. Uma resposta patriótica e de esquerda ao rumo de desastre nacional que
estava a ser imposto.
Opondo-se, PS, PSD e CDS escancaram as portas a uma intervenção externa do FMI, do BCE e da CE. Um programa ilegítimo de submissão e agressão ao povo e ao país, que o novo Governo PSD/CDS, com a colaboração do PS, quer concretizar. E ir mais além…
Opondo-se, PS, PSD e CDS escancaram as portas a uma intervenção externa do FMI, do BCE e da CE. Um programa ilegítimo de submissão e agressão ao povo e ao país, que o novo Governo PSD/CDS, com a colaboração do PS, quer concretizar. E ir mais além…
Como há muito denunciamos o endividamento do país é a
consequência mais visível da política de desastre nacional que PS, PSD e CDS
impuseram nos últimos 35 anos. Um endividamento líquido público e privado, que
assume hoje uma colossal dimensão! Consequência da desindustrialização, do
abandono da agricultura e pescas, de privatizações, da financeirização da
economia, da submissão às imposições da UE e do grande capital nacional e
estrangeiro.
Um processo que se acentuou de forma exponencial por via da adesão ao euro e a gestão orçamental segundo o PEC!
Um processo que se acentuou de forma exponencial por via da adesão ao euro e a gestão orçamental segundo o PEC!
Consequência da transferência para o Estado, que
depois transferiu para os portugueses, dos prejuízos do sector financeiro, ler
BPN e C.ia! A que se segue há um ano, a criminosa espiral especulativa, que par
da austeridade dos PEC nos conduziram a uma dramática situação social e
económica.
Uma dívida que não decorre de um povo “a viver acima
das suas possibilidades”, ou por causa de uma anónima classe política, ou pior
ainda, por idiossincrasias do povo. Mas por causa de políticas e opções
políticas do PS, PSD e CDS e dos seus governos num processo de aprofundamento
da dependência externa e de subordinação aos grupos do grande capital. Uma
dívida que tem uma componente opaca e ilegítima que necessita de ser apurada,
para se determinar a efectiva responsabilidade do Estado português.
A NECESSÁRIA RENEGOCIAÇÃO DA DÍVIDA
O caminho da renegociação da dívida pública não é uma
solução fácil, nem pode constituir uma medida isolada. Mas deve ser encetada
com urgência, por iniciativa do Estado Português.
Alguns eixos que consideramos essenciais.
Alguns eixos que consideramos essenciais.
A prévia avaliação completa e rigorosa da dívida. Um
serviço da dívida compatível com o crescimento económico. A salvaguarda dos
pequenos aforradores. A reconsideração do empréstimo do FMI/BCE/CE.
Uma forte iniciativa negocial e diplomática junto de
outros países visando uma acção convergente e solidária na resolução dos
problemas comuns.
Uma política activa de “renacionalização” e de
diversificação externa do financiamento.
A consolidação das finanças públicas concretizada pelo lado das Despesas e das Receitas.
O aumento da produção, contendo e substituindo importações por produtos nacionais e fazendo crescer as exportações.
A consolidação das finanças públicas concretizada pelo lado das Despesas e das Receitas.
O aumento da produção, contendo e substituindo importações por produtos nacionais e fazendo crescer as exportações.
UM PACTO DE AGRESSÃO
A alternativa à renegociação é o programa de submissão
e agressão externa da Troika. Ou seja a garantia do dramático agravamento dos
problemas do País, mais recessão, falência de milhares de PME, mais desemprego,
mais pobreza e atraso económico e social.
Um programa que é um escândalo pelo seu destino – o
sector financeiro - e pelos 30mM € de juros a pagar. Pelo aumento da
exploração dos trabalhadores e aumento generalizado de impostos e dos preços.
Pelos cortes na saúde, educação e segurança social, pelos cortes nos
investimentos públicos. Pelas privatizações. Porque é insustentável, não
resolvendo a própria questão da dívida pública. Mas que abrirá portas para
novas medidas de austeridade, de que já é exemplo o roubo do subsídio de Natal!
Um programa que viola a independência e soberania
nacionais, que acentuará a dependência e fragilidades estruturais do País. Que
em confronto com a Constituição da República, atinge o regime democrático
português.
Um programa semelhante ao que foi aplicado na Grécia e
na Irlanda – autêntica recolonização - com as consequências que conhecemos.
E um programa inútil. Como na Grécia, na Irlanda, não
travou o agravamento vertiginoso da especulação financeira. O lixo das agências
de rating. A cacofonia europeia! A insuportável pesporrência e prepotência
imperial da Srª Merkel e c.ia!
AS EXPLICAÇÕES E JUSTIFICAÇÕES DOS “EUROPEÍSTAS”
Políticos e ideólogos neoliberais, da
social-democracia aos conservadores, – em Portugal gente do PS, PSD e CDS e a
lista é longa! - são diariamente confrontados com a brutal realidade da
integração europeia e do euro (a pedra sobre a qual Guterres ia construir a sua
Europa) no quadro da crise do sistema capitalista. Confronto, que põe a nu/desmascara
toda a propaganda, todas as fraudes e mentiras que ao longo de 25 anos foram
impingidas sobre uma União Europeia de “coesão económica, social e territorial”
de “solidariedade entre os Estados-Membros” (ainda hoje inscrita nos tratados).
É assim necessário ensaiar velhas e novas explicações e justificações e
inventar soluções miraculosas para a dramática situação que Portugal e outros
países da periferia europeia enfrentam!
Explicações e justificações com que entramos no reino
dos mitos. O mito dos pais fundadores da CEE/União Europeia, a dos líderes
inspirados (não se sabe se por alguma luz divina) que se lhes seguiram. O tempo
do paraíso comunitário, em que o feroz leão convivia com o manso cordeiro (não
sabem alguns, ainda hoje, de que se alimentava o leão!), onde não havia
“egoísmos nacionais”! Os “grandes e desinteressados” líderes, que guiados pelo
ideal de uma Europa unida e solidária, conseguiram o facto notável de mais do
que duplicar o nº de Estados-Membros no alargamento a Leste, reduzindo o
Orçamento Comunitário!
E perante uma gestão da crise das dívidas soberanas
conduzida pelos interesses do capital financeiro europeu e do Directório, onde
prevalecem os interesses do capital alemão, perante a profunda crise da Zona
Euro, desdobram-se em lamentações sobre a escassez de líderes e a fartura de
egoísmo. E inventam soluções mirabolantes e bombásticas, que em geral escondem
a proposta e escolha pura e dura de um Super-Estado federal, o projecto que os
povos da Europa acabaram por derrotar, negando uma pretensa “constituição
europeia”! Projecto que aliás, mesmo transfigurado de Tratado dito de Lisboa,
dotado de avanços significativos de federalismo, para lá do aprofundamento do
neoliberalismo e militarismo, não acrescentou uma vírgula à prevenção e
resposta à profunda crise que atravessamos!
É assim que aparece um novo “New Deal” subscrito por M Soares e J Sampaio. E nasce “Uma visão clara para o Euro”, um novo Plano Delors e C.ia (González, Prodi e Vitorino). E até o PR Cavaco Silva, veio no sábado fazer o apelo platónico à desvalorização do euro (para favorecer a competitividade das exportações europeias), esquecido que esteve de se manifestar contra a também recente subida da taxa de juro pelo BCE! Tudo para confortar a possível consolidação da tese de um Ministro das Finanças Europeu, embrião de um pretendido futuro governo económico europeu.
É assim que aparece um novo “New Deal” subscrito por M Soares e J Sampaio. E nasce “Uma visão clara para o Euro”, um novo Plano Delors e C.ia (González, Prodi e Vitorino). E até o PR Cavaco Silva, veio no sábado fazer o apelo platónico à desvalorização do euro (para favorecer a competitividade das exportações europeias), esquecido que esteve de se manifestar contra a também recente subida da taxa de juro pelo BCE! Tudo para confortar a possível consolidação da tese de um Ministro das Finanças Europeu, embrião de um pretendido futuro governo económico europeu.
Tudo tem acontecido desde há cerca de ano a esta
parte, na União Europeia e na Zona Euro, com a desestabilização económica,
social e política de Estados-Membros soberanos como a Grécia, a Irlanda e
Portugal perante a chantagem e agiotagem dos chamados mercados financeiros e
agências de rating, e a participação activa dos membros do Directório das
grandes potências, com a Alemanha à cabeça. E se depois de tudo isto, há ainda
alguém que julga que a solução passa pelo reforço do comando político e
económico do Directório, via soluções federalistas, como não é possível admitir
ingenuidade ou boa fé, tal desígnio, só pode ser classificado como cumplicidade
com políticas que ofendem a dignidade e direitos de milhões de cidadãos da
Europa.
Não há mais margem para ambiguidades e dúvidas.
Portugal, seguindo as orientações comunitárias teve o PEC 1, o PEC 2, o PEC 3,
transformado em OE/2011, o nado-morto PEC IV, a intervenção externa do FMI, BCE
e CE, o dito Memorando da Troika, recauchutado em versão agravada em Programa
do XIX Governo Constitucional. Cada um desses Programas visava acalmar os
mercados financeiros! Cada cedência abria-lhes o apetite e subia a parada da chantagem.
E a União Europeia a ver… E após o último, o Programa do Governo, com o
acrescento de última hora, em antecipação aos desejos dos mercados, de um
preventivo imposto sobre os trabalhadores e os pensionistas, para escândalo de
tanta gente, acabamos no “lixo” de uma agência de rating. E oh escândalo, oh
indignação, oh repúdio dos que há umas semanas/meses diziam ser necessário
respeitar os mercados… Mas “Pode alguém ser quem não é?” Consumatum est? Não!
Até à próxima!
Um dia destes, alguém comentando estas coisas, do euro
e da reestruturação da dívida, no Diário Económico, sob o título “Razões
radicais”, referindo o PCP, escrevia direito por linhas tortas: “Porque razão
acontece tantas vezes que o discurso da esquerda mais radical acaba por ter razão
antes do tempo?” E concluía: “Será que daqui por uns tempos, vamos ouvir os
economistas de direita reconhecer que isso é inevitável?”.
Quem politicamente não tiver preconceitos, terá de
olhar para o percurso dos posicionamentos do PCP sobre estes assuntos, e no
mínimo concluir, pela coerência, consistência e aderência à realidade do seu
discurso. Sobre a adesão à CEE. Sobre os sectores produtivos nacionais. Sobre a
moeda única/Euro. Sobre o endividamento do País.
Razões fortes para uma reflexão séria sobre o Projecto
de Resolução que hoje trazemos a debate “Pela renegociação da dívida pública e
pelo desenvolvimento da produção nacional”!
-Esta proposta foi rejeitada com os votos contra do CDS/PP, PPD/PSD e PS-
1 comentários:
A direita chumbou hoje, o inevitável de amanhã...
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