Terra queimada | ||
por Vasco Cardoso
A tragédia dos incêndios voltou a assolar a região Algarvia
desta vez com um fogo de grandes dimensões que dizimou parte dos
concelhos de Tavira e São Brás de Alportel. Há quem procure ver nesta
triste reincidência apenas os efeitos de condições climatéricas
adversas, ou a flagrante, e justamente denunciada, falta de coordenação
dos meios de combate. Mas é uma evidência que, por detrás destes grandes
incêndios, está uma criminosa política de abandono do interior do país–
onde se inclui a serra Algarvia – de desprezo pela actividade agrícola e
florestal, de esvaziamento das aldeias, das vilas e concelhos de parte
importante de serviços públicos fundamentais para fixar populações, de
favorecimento da especulação imobiliária e do lucro fácil, em detrimento
do desenvolvimento equilibrado do território assente na dinamização da
produção.
É tudo isto que explica que a tragédia dos incêndios se repita ano após ano, apesar do esforço abnegado dos bombeiros, com uma violência de tal forma cruel que deixa em desespero as populações atingidas. A periódica, brutal e trágica presença dos incêndios florestais no Algarve exemplifica bem a identidade das principais orientações e comportamentos do Governo PSD/CDS com governos passados, em que a insensibilidade frente ao drama das populações e à ruína do património agro-florestal exigem a mais firme condenação. Das promessas realizadas aquando dos grandes incêndios na região do Algarve nos anos de 2003 e 2004 fica, por omissão dos governos PS e PSD/CDS, uma mão cheia de nada. Vêm aí agora as promessas do costume, quando aquilo que se exigia seria uma resposta rápida na reparação dos prejuízos causados às populações e à actividade económica, e uma inadiável ruptura com as políticas seguidas para o sector agro-florestal. Mas no Algarve, há um outro fogo que “arde sem se ver”, é aquilo a que poderíamos chamar de um verdadeiro incêndio social, uma política de terra queimada no que diz respeito à actividade económica. Os trabalhadores e as populações desta região estão a ser brutalmente castigadas pelo desemprego em massa, pela redução dos seus salários, pelo acelerado empobrecimento, pelo agravamento da exploração. Com um Verão marcado por uma acentuada quebra no turismo – a principal actividade económica da região – sobram os legítimos receios de que, terminada a época estival, centenas de pequenas empresas possam vir a fechar portas agravando o caudal do desemprego e da pobreza. É por tudo isto que cresce a consciência em largas camadas da população de que não é possível sair do actual buraco em que enfiaram o país e a região, sem uma profunda ruptura com a actual política. São cada vez mais os que compreendem que as decisões que estão a ser tomadas, nada têm a ver nem com a dívida nem com o défice – que aliás continuam a crescer – mas com uma inaceitável submissão dos partidos da troika aos interesses da banca e dos grupos económicos. E é também uma evidência que se reforça o número daqueles que, nada tendo a perder, estão disponíveis para lutar contra tudo isto. Responsável pela DORAL do PCP |
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