Porquê este blogue?

Num tempo muito inquietante, marcado por uma forte ofensiva ideológica, com a qual os média dominantes fazem chegar todos os dias a milhões de pessoas a desinformação organizada com o objectivo de servir e defender os interesses do grande capital, a leitura e divulgação de informação progressista e revolucionária é crucial para todos os que assumem como referência maior os valores e ideais de ABRIL!

A LUTA CONTINUA!

sábado, 28 de abril de 2012

1º DE MAIO DE 2012 -- CGTP-IN



                          
1º de Maio em Faro           
há autocarro de Lagos ás 9:00   
 com saída da rotunda das cadeiras      

  Tempo de Antena da CGTP-IN  
Ver aqui:
http://www.youtube.com/watch?feature=player_detailpage&v=aDwM7vbLDkQ#t=66s 

quinta-feira, 26 de abril de 2012

SESSÃO SOLENE do 25 de Abril NA ASSEMBLEIA DA RÉPUBLICA


Sessão Solene do 38º Aniversário do 25 de Abril  

Intervenção de Agostinho Lopes na Assembleia de República   

1.Uma crise profunda brutaliza a pátria portuguesa. Uma crise encaixada, embebida na crise do capitalismo. Uma crise que “revelou”, todas as fragilidades, todos os défices estruturais, todos os estrangulamentos do País. Um processo cumulativo, que agora implodiu e explodiu, detonado pela crise do capitalismo.                              

Bateu-nos à porta e não pediu licença para entrar. Estava cá dentro em gestação. Não aconteceu por acaso. É o resultado de opções políticas. Tem responsáveis: PS, PSD e CDS/PP, os partidos, os seus dirigentes políticos, os seus governos, que assumiram ao longo dos últimos 36 anos a política de recuperação capitalista, latifundista e imperialista e golpearam o regime de Abril, com sucessivas contrarrevoluções legislativas e revisões constitucionais.
E eis que ontem, esses partidos, PS, PSD e CDS/PP, pretensamente para responder ao desastre nacional a que conduziram o País, subscreveram um Pacto de agressão e de traição a Portugal e aos portugueses. Um Pacto que pela sua natureza e conteúdo é um ajuste de contas com Abril, que hoje comemoramos!

Um Pacto que agride núcleos da soberania e independência nacionais. Aceitando imposições externas sobre a organização dos tribunais, um Órgão de Soberania.
Impondo um novo riscar do mapa das freguesias e concelhos. Um Pacto, que agora com o dito Tratado Orçamental, pretende impor o visto prévio de potências e poderes estrangeiros, à soberana gestão das contas do Estado português. Impor a jurisdição de tribunais externos sobre o Tribunal Constitucional, sobre a Constituição da República.
Sabemos como alguns justificam a submissão ao Pacto. Seria a recuperação da soberania económica, pelo saneamento das contas do Estado.

É uma fraude política. As imposições económicas, as taxas de juro, os prazos e as condições da aplicação, não asseguram qualquer sustentabilidade presente ou futura das contas públicas.
E é uma blasfémia política. É como se o caminho para resistir a Castela em 1383/1385, passasse por fugir a Aljubarrota. Como se o caminho para afirmar a independência nacional em 1580, passasse pela aceitação do jugo filipino. Como se o caminho em 1808, fosse a fuga para o Brasil e a colaboração com os ocupantes e não a resistência às invasões napoleónicas.

Percebemos o afã no apagamento simbólico da história pátria, do 5 de Outubro, do 1º de Dezembro, ou da marca da história no desenho das freguesias e concelhos.
As classes dominantes, grande parte das suas elites, sempre foram, com excepções, permeáveis à colaboração com o estrangeiro opressor e explorador, em defesa dos seus interesses de classe. Foram as forças do capital monopolista restaurado e as forças políticas, PS, PSD e CDS, que impulsionaram a sua restauração, que transformaram o Estado Português no processo de integração comunitária, numa enorme junta de freguesia. As mesmas forças, que agora aceitam a sua transformação num protectorado da Alemanha.

E tem sido sempre, o pé-descalço, os condenados da terra, os trabalhadores e o povo, com outros patriotas de muitas condições sociais, a levantar a voz, a erguer a resistência, a dar o corpo à revolta. Foi assim que chegamos e fizemos Abril!
Um Pacto de agressão aos trabalhadores e ao povo.
Que tem como outro vector a guerra ao trabalho. Ou seja, consolidar o modelo de mão-de-obra barata, precária e baixo valor acrescentado, que trouxe o País até à crise.

A contrarrevolução na legislação laboral e o crescimento da massa dos desempregados, o exército de reserva, só têm um objectivo: baixar o preço da força de trabalho! A variável única de ajustamento dos desequilíbrios económicos do país, para os testamenteiros do Pacto.
Este foi e é o caminho do desastre. E, é uma enorme mentira política, que nem os cânones da economia capitalista consentem, fazê-lo em nome da produtividade e competitividade e do emprego. Nenhuma trabalhadora têxtil, que leva para casa, ao fim de uma vida de trabalho de 35 anos na mesma empresa, o SMN/485 euros, vai ser agente de mais produtividade. Um colossal embuste, que os dados empíricos pós sucessivas reformas da legislação laboral, não consentem como argumento, para melhorar a produtividade e combater o desemprego.

Um Pacto de agressão e regressão social e civilizacional na restrição e encarecimento do acesso à saúde, ao ensino e aos apoios sociais, visando de facto a destruição do Serviço Nacional de Saúde, da Escola Pública, do Sistema Público de Segurança Social. Um Pacto que agravará as desigualdades sociais e as assimetrias regionais.
Um Pacto de agressão e regressão na soberania económica do país, com a liquidação do que ainda restava de instrumentos de comando estratégico do Estado em sectores e empresas estratégicas de bens e serviços essenciais. Pela dádiva das golden shares/acções privilegiadas, pela conclusão da privatização/venda a pataco do que restava das posições do Estado.
E tem um grande simbolismo, que em vésperas do 25 de Abril, um Governo que inscreveu no seu Programa, a reindustrialização do país, tenha dado luz verde ao processo de desmantelamento e deslocalização da que é hoje a principal empresa industrial em Portugal: a CIMPOR, uma construção de Abril!

2. A crise do capitalismo, obriga a classe dominante a redobrados esforços de manipulação para explicar e esconder as causas e os responsáveis pela catástrofe.

Depois da Europa connosco, da Adesão à CEE, do euro, sempre apresentados como caminho de sentido único e inelutável e garantia do paraíso na terra, os portugueses não precisavam de se preocupar com essa coisa da produção nacional. (Houve quem teorizasse sobre a desmaterialização da economia - na nova economia, não precisávamos nem de agricultura nem de produzir, ferro, cimento, ácido sulfúrico!) Não precisávamos de nos preocupar com o endividamento externo e o financiamento do Estado. Abrigados sob a asa protectora da União Europeia, do euro, estávamos a salvo das crises monetárias e financeiras. União Europeia que regularmente ia despachando para Portugal uns milhares de milhões de euros…como contrapartida à destruição do aparelho produtivo!
É assim que a imposição do Pacto de agressão, aparece como um absurdo, uma irracionalidade!
Justificações: “Todos somos responsáveis pela situação a que o País chegou”. “Vivemos acima das nossas possibilidades”. Ou seja, a extraordinária ideia, de que todos somos culpados e de que todos comemos mais do que devíamos. Os ricos e os pobres, os que enriqueceram e os que empobreceram e se endividaram. Os desempregados e os que os despediram, os que põem o seu dinheiro nos offshores ou na Holanda para fugir ao fisco. Os grupos monopolistas, que centralizaram e concentraram capital, e engordaram nos jogos bolsistas, na especulação financeira, na produção privatizada de bens não transacionáveis, e as pequenas empresas, que faliram ou sobreviveram por recurso ao crédito.

Teses que partilharam o espaço mediático com outras justificações/explicações da crise.
A explicação da crise como catástrofe natural, um tsunami, “naturalizando”, neutralizando, as suas causas. A explicação pelas idiossincrasias e natureza do povo português. O trabalhador português, preguiçoso e indisciplinado, precisa do aguilhão patronal e da fome.
Logo facilidades para despedir, menos subsídio de desemprego. O cidadão tem o vício atávico e sadomasoquista de frequentar urgências hospitalares! Logo mais e maiores taxas moderadoras!
A explicação da crise pelas gorduras do Estado, a diabolização do Estado, da despesa pública, do funcionalismo público.

A crise é uma oportunidade de ouro para os talhantes neoliberais de todos os matizes raparem as gorduras, com muita carne do lombo à mistura. Justificações e explicações que expulsam a política das causas da crise, a identificação e responsabilização dos responsáveis políticos, dos partidos e dos governantes, PS, PSD e CDS, pelo estado a que chegamos.
Justificações e explicações que suportam/desenvolvem as teses da judicialização e criminalização da decisão política. De que os problemas do País decorrem da má qualidade dos políticos e elites políticas. Da (in)competência dos “gestores/decisores” públicos. Da (des)honestidade e da corrupção dos políticos. Não há opções e escolhas políticas e ideológicas. Não há alternativas políticas e políticas alternativas! A política passou a ser uma tecnologia, uma moral, uma engenharia eleitoral.
Não há política. Os partidos seriam mesmo outra coisa, que não a representação política de interesses de classe. E assim se elimina o questionamento das opções políticas estratégicas: integração comunitária, privatizações, o Estado de Abril.

É assim que carregam a crise – a dívida externa, o défice orçamental, a ruína da agricultura e pescas, a falta de médicos, o desastre da justiça, etc – nas formas orgânicas e eleitorais do sistema político, no regime democrático de Abril. Há quem escreva sobre a “Dívida pública e défice democrático”. E assim se esvaem as responsabilidades dos partidos e políticos, PS, PSD e CDS/PP, que governaram e governam o país, e se absolvem as responsabilidades da integração capitalista europeia e do euro. É assim que se faz de uma anónima classe política a culpada única dos nossos problemas, porque assim ninguém é responsável, mesmo os responsáveis!
É assim que se encena uma monstruosa fraude política, fazendo do nº de freguesias e concelhos os bodes expiatórios dos desequilíbrios das contas públicas. Do nº de feriados, a grande causa da falta de produtividade da economia nacional. Do nº de deputados a origem do desastre nacional. É assim que todos os problemas do País se resolvem facilmente pela criação dos círculos uninominais, pela redução do nº de deputados, pela extinção de freguesias, pelos executivos autárquicos monocolores. Pela mudança dos sistemas eleitorais.

E é assim, pensam alguns, que se vai travar a mentira eleitoral e a duplicidade sistémica e sistemática de partidos e políticos deste e anteriores governos. No governo, o contrário do que se dizia na oposição. Na oposição, o contrário do que se fazia no governo. O que é um cancro na democracia!
Esta ocultação dos partidos e das políticas responsáveis pelo desastre tem outra face e utilidade. A ocultação de quem afirmou no tempo certo, antes da Adesão, que o euro não era compatível com a produtividade e a economia nacional. De que o euro representava o financiamento do Estado nas mãos dos mercados financeiros. De quem denunciou as consequências da PAC e não descobriu agora o abandono das terras e a importância da produção agrícola. De quem denunciou o abate da nossa frota pesqueira e o fim da marinha mercante e não descobriu agora a importância do mar. De quem travou um persistente combate à privatização e desmantelamento de empresas estratégicas e à liquidação de importantes fileiras e unidades industriais, e não descobriu agora que precisamos de industrializar o País. De quem sistematicamente alertou para a gravidade do vultuoso défice comercial e a insustentabilidade do endividamento externo!
 O Partido Comunista Português.

3.A concluir. Permitam que saúde a festa de Abril nesta Assembleia da República, que não poderá deixar de ser, como são hoje as ruas e praças de Portugal, uma casa de Abril. Permitam que alguém que era alferes miliciano, com a emoção que ainda hoje sinto, lembre e saúde o meu Quartel, a Escola Prática de Serviço de Material, a EPSM de Sacavém, os seus soldados, sargentos e capitães, com quem vivi dias memoráveis. E que saudando os militares de Abril, o MFA, o glorioso Movimento das Forças Armadas, lembre por todos, Vasco Gonçalves, que foi soldado, capitão e general deste povo que não o pode esquecer!

Já quase tudo foi dito sobre essa manhã clara e vibrante, quente e luminosa, desse Abril, já tão longe e ainda tão perto, da nossa razão, do nosso sonho, da nossa vida. Dessa manhã amada e armada dos sinos da nossa liberdade colectiva. Dessa alvorada, manhã depois da noite do fascismo. Desse parto e porto de alegria, depois da triste escuridão de opressiva ditadura.
Desse sonho acordado e acendido depois de milhares de dias de medos e tormentos, de dores e sangue, de separação e ausências, desses dias cheios de grades, que era “vestido para todas as idades”. Dessa manhã, foz do rio de lutas, de coragens desconhecidas, de mulheres e homens assumidos, de paciências insuspeitas e corrosivo desfilar de desespero, de impotência, do escoar dos dias na desesperança da vil tristeza em que vivia este povo.

Rio tão cheio de sacrifícios, de batalhas perdidas e de pequenos passos na consciência das gentes, tão cheio dos operários, tão cheio dos jovens desta terra aberta ao mar e ao sul. Rio cheio do nosso povo.
Rio que desaguou fraterno, solidário, de grito aberto nas bocas, de lágrimas sentidas nos rostos, de corpos abraçados de alegria, na manhã clara desse Abril, tão nosso e tão de todos, que ainda hoje sentimos o nó na garganta e uma funda turvação na memória. Desse Abril, Maio na rua. Maio da nossa força, bandeira proletária de luta. De trabalhadores, sem outra ambição que o generoso projecto de quebrar as grilhetas seculares da opressão e da exploração. Dos homens por outros homens. Dos povos por outros povos.

E apesar de tudo, o que depois aconteceu, foi assim que avançamos.
Abril, que foi o louvor da política, optou. Decidiu o salário mínimo. Optou pelos direitos dos trabalhadores contra os interesses do capital. Optou pelos que não tinham escola nem saúde. Optou pelos sem terra contra os que a tinham em demasia. Optou pela paz contra os interesses dos que faziam a guerra. Optou pela liberdade de todos os povos como fundamento da nossa própria liberdade.

E hoje, é o projecto de Abril, os valores de Abril que podem iluminar o caminho a Portugal e aos portugueses. Do passado para o futuro, a liberdade, a democracia, o desenvolvimento, a justiça social, a soberania e a independência nacional!

Um caminho de necessária ruptura e alternativa.

DISCURSO NA SESSÃO SOLENE 25 DE ABRIL







 Discurso da CDU na Sessão Solene 25 de Abril, em Lagos
                         



Ex.mo Senhor Presidente da Assembleia Municipal  
Ex.mo Senhor Presidente da Câmara Municipal   
Demais Autarcas   
Ex.mo representante da Associação 25 de Abril   
Eleitos da Assembleia da Juventude  
Exmos. Senhores Dirigentes das Associações, Clubes e Colectividades    
Minhas senhoras e meus senhores  
         
Comemoramos mais um aniversário do Dia da Liberdade num tempo marcado pela intensificação da furiosa ofensiva contra Abril e as suas conquistas. Uma ofensiva que – iniciada há trinta e seis anos pelo primeiro governo PS/Mário Soares, e prosseguida de então para cá por sucessivos governos compostos pelos três partidos da política de direita, sozinhos ou aos pares – assume agora contornos de um assalto final a tudo o que a Revolução de Abril nos trouxe de positivo, avançado, moderno e progressista.

Entretanto, à troika PS, PSD, CDS que ao longo de mais de três décadas tem vindo a devastar o Portugal de Abril, juntou-se, de há um ano a esta parte, a troika FMI, União Europeia, BCE – e as duas, de mãos dadas, assinaram o tenebroso pacto de agressão. Um pacto que, tal como alertamos na devida altura e a realidade confirmou, veio agravar ainda mais a situação económica e social, provocando um maior endividamento do País; trazendo mais desigualdades e injustiças; trazendo mais desemprego e mais exploração; abrindo alas aos aumentos desenfreados de todos os bens essenciais; roubando nos salários, pensões e reformas; aumentando a pobreza, a miséria e a fome; roubando pedaços significativos da independência e da soberania nacionais; roubando direitos, liberdades e garantias aos trabalhadores e aos cidadãos; roubando democracia à já fragilizada democracia existente; roubando Abril aos trabalhadores, ao povo e ao País.

Um pacto que, naturalmente, e cumprindo o seu objectivo maior, trouxe mais e mais lucros e vantagens e benesses aos chefes dos grandes grupos económicos e financeiros, para servir os quais – e só para isso - as duas troikas existem.

Um pacto que também ataca o poder local, com a tentativa de liquidação de centenas de freguesias que numa cega atitude de subserviência e alienação dos interesses e valores nacionais , visa outros e inaceitáveis objectivos:
-visa o empobrecimento democrático;
-visa o enfraquecimento da afirmação, defesa e representação dos interesses e aspirações das populações que a presença de órgãos autárquicos asseguram;
-visa o aprofundamento das assimetrias e perda de coesão territorial, social e económica com  o abandono ainda maior das populações acentuando a desertificação;
- e ainda que falsamente o neguem, visa um ataque ao emprego público.

De referir que no flagelo do desemprego estão mais de 15% da população portuguesa, sendo no  que respeita aos jovens com menos de 25 anos a taxa é de 35%; situando-se o Algarve no topo das regiões nacionais com uma taxa de mais de 23% de desemprego, coisa nunca vista em 38 anos de democracia.

Por tudo isso, comemoramos o 38.º aniversário de Abril em luta: luta pela rejeição do pacto de agressão e da sua política antipatriótica e de direita; luta por uma política patriótica e de esquerda, ao serviço dos interesses de Portugal e dos portugueses, inspirada nos valores da Revolução de Abril.

A Revolução de Abril foi o momento mais luminoso da história de Portugal. Tempo de alegria colectiva, de povo nas ruas a despedaçar algemas e mordaças, a conquistar a liberdade, exercendo-a, e conferindo-lhe o seu verdadeiro e amplo significado, juntando-lhe os direitos que a distinguem da falsa liberdade burguesa. Tempo de afirmação entusiástica e consciente da defesa do interesse nacional – que é o interesse dos trabalhadores e do povo no quadro da independência e da soberania de Portugal. Tempo de início da construção de um tempo novo, de justiça social, de direitos humanos reconhecidos, de paz e solidariedade com todos os países e povos do mundo. Tempo da construção da mais avançada democracia alguma vez existente em Portugal: uma democracia económica, social, política, cultural e com uma determinante componente participativa – que viria a ser consagrada na Constituição de Abril, aprovada em 2 de Abril de 1976.

A Revolução de Abril foi liberdade; foi direito ao trabalho com direitos; foi direito à Saúde, direito ao Ensino, direito à Segurança Social; foi a experiência histórica da terra entregue a quem a trabalhava e dos sectores estratégicos fundamentais da economia colocados ao serviço do povo e do País; foi a construção do Poder Local Democrático; foi o fim da guerra colonial, libertando outros povos do jugo colonial e simultaneamente libertando Portugal; foi o fim do isolamento internacional do nosso País…

E se é verdade que as famigeradas troikas já destruíram grande parte dessas conquistas de Abril, mais verdade é que Abril continua vivo e a apontar para o futuro do Portugal pelo qual lutamos, com a certeza de que «Abril, os seus valores, as suas conquistas e transformações hão-de fazer parte do nosso devir colectivo».

Assim, as lutas contra a política de afundamento nacional das troikas são uma luta por Abril – assim como foram as últimas greves gerais;
-assim como foram as grandes manifestações convocadas pela Central Sindical CGTP;
-assim como foi a grande manifestação de 31 de Março  contra a eliminação de freguesias;
- assim como são as muitas greves sectoriais que ocorrem pelo país;
-assim como são as manifestações contra o Acordo de Concertação Social, ou contra a nova Lei dos Arrendamentos;
 -assim como são as manifestações contra a introdução de portagens nas ex-scut´s;
 -assim como são as manifestações em defesa do Serviço Nacional de Saúde, da Escola Pública , e da Segurança Social;
- assim como são as manifestações dos agricultores, e outros sectores de produção;
-assim como muitas outras pequenas lutas que ocorrem pelo país, que apesar de pequenas são também grandes em coragem, em determinação e em confiança.

O aprofundamento da democracia, tal e qual como emergiu da revolução de Abril, é o mais forte garante de construção de um Portugal mais justo, mais fraterno e mais solidário, um país desenvolvido e em que seja reconhecido a todos o direito a uma vida digna, em liberdade e paz.

Sempre com a consciência de que é pela luta que lá vamos.

Lutando, com confiança, derrubámos o fascismo e conquistámos Abril.

Lutando, com confiança, derrotaremos a política das troikas e daremos voz aos valores de Abril no futuro de Portugal.

25 DE ABRIL SEMPRE !
VIVA O 25 DE ABRIL !
                                                                              Lagos 25 de Abril de 2012

terça-feira, 24 de abril de 2012

NOTA DE IMPRENSA - 25 DE ABRIL




Sobre as comemorações do 25 de Abril
                            
O PCP pronuncia-se pela valorização das comemorações oficiais do 25 de Abril, das quais emerge com particular significado a sessão que se realiza na Assembleia da República e cuja eliminação – que a direita pretende e já várias vezes tentou – contribuiria, de facto, para a sua menorização.
                        
Valorização e significado que nenhuma actuação de qualquer governo (presente ou passados) por mais violadora dos valores de Abril e da Constituição da República Portuguesa que o seja – como há sucessivos anos o é – pode apagar ou justificar que se elimine.

Registando o sentimento crescente de indignação de milhões de portugueses, e também de muitos dos militares de Abril, perante um rumo de mais de trinta e cinco anos de política de direita que o PCP tem denunciado e combatido, o PCP sublinha que a defesa dos valores e conquistas de Abril é inseparável no presente momento da rejeição do Pacto de Agressão e do combate a um programa de empobrecimento, declínio e amputação da soberania que PS, PSD e CDS subscreveram com a União Europeia e o FMI.

O PCP apela aos trabalhadores e ao povo para que, com a sua participação nas comemorações populares do 25 de Abril, expressem a sua condenação pelo rumo imposto ao país e a exigência de ruptura com esta política e de concretização de uma outra política, patriótica e de esquerda que assegure a defesa dos direitos, o progresso social e a construção de uma vida melhor num Portugal com futuro.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

COMUNICADO DA DORAL DO PCP




Comunicado da reunião da DORAL do 
PCP 20 de Abril de 2012
                                                  
A Direcção da Organização Regional do Algarve do PCP, na sua reunião de 20 de Abril,
identificou os traços mais marcantes que caracterizam a situação económica e social na região e no país nos últimos meses imposta pelo pacto de agressão que PS, PSD e CDS assumiram com a União Europeia e o FMI. Analisou o conjunto muito diverso, de acções de luta que os trabalhadores e as populações têm travado na região e a necessidade da sua intensificação. Identificou as principais tarefas que se colocam aos comunistas nos próximos tempos, desde logo as que se relacionam com a sua iniciativa política, o reforço da sua organização e a preparação do XIX Congresso do PCP que se realizará no final do ano.

1- Acompanhando os traços essenciais do afundamento da situação económica e social que atinge o povo português, no Algarve a vida dos trabalhadores e das populações agrava-se diariamente. Numa região marcada negativamente pela destruição do seu aparelho produtivo, pela precariedade das relações laborais, pela sazonalidade da actividade turística, pelo estímulo das actividades especulativas e parasitárias, os impactos da actual crise do capitalismo atingem proporções de calamidade social e descalabro económico.

São disso exemplo: a dimensão do desemprego que no Algarve atinge o valor máximo no plano nacional superando os 23%; os números divulgados pelo eurostat que apontam a região do país como sendo aquela que mais empobreceu nos últimos anos face à média da UE; a generalização de salários em atraso particularmente no sector da hotelaria e da construção civil; as quebras identificadas da actividade produtiva em geral como revelam os números recentemente divulgados sobre a diminuição das descargas de pescado, com lotas a registarem quebras de 50%; os mínimos históricos alcançados na ocupação hoteleira em períodos como o Natal e a Páscoa; os encerramentos às centenas de pequenos estabelecimentos comerciais nos principais núcleos urbanos; as rupturas no investimento público que se reflectem na interrupção de intervenções urgentes nos equipamentos escolares ou na rede rodoviária como a N125; o desinvestimento e degradação dos cuidados de saúde a par do adiamento da construção de equipamentos fundamentais como o Hospital Central do Algarve; a situação de ruptura financeira de instituições essenciais à vida das populações como as diferentes corporações de bombeiros; os estrangulamentos colocados à mobilidade das populações decorrentes da introdução de portagens na Via do Infante e no desinvestimento e rupturas na rede de transportes públicos.

A DORAL do PCP chama ainda a atenção para o facto da generalidade das câmaras municipais da região, todas elas de maioria PS e PSD, estarem a transferir para as costas das populações a factura dos cortes orçamentais impostos por uma política do governo que no fundo apoiam e pelas quebras registadas nas receitas provenientes de um modelo de financiamento assente durante décadas na especulação imobiliária. São disso exemplo os insuportáveis aumentos decretados nas facturas da água – situação que é inseparável do objectivo de privatizar este bem público - nas tarifas e zonas de estacionamento, nas taxas camarárias que são cobradas por todo o tipo de serviços ou utilização do espaço público.

2- Esta é uma realidade que, pelos indicadores disponíveis, não será ultrapassada com o aumento da actividade turística que ocorre no Verão, nem com as sucessivas promessas e declarações de intenção do conjunto dos partidos e dos seus responsáveis na região, que há décadas andam a enganar o nosso povo. Esta é uma realidade que, a não ser interrompida a política que está em curso, poderá ainda conhecer novos e perigosos desenvolvimentos, designadamente se vierem a ser concretizadas medidas como: as alterações à legislação laboral; a tentativa de perpetuação dos cortes nos subsídios de férias e de Natal e de apoios sociais diversos; a extinção de freguesias; a manutenção das portagens; a imposição da “Lei dos despejos”; o processo de destruição do Serviço Nacional de Saúde - SNS e da Segurança Social.

Esta é uma realidade que os números oficiais, ou a sucessão de notícias nos órgãos de comunicação social está ainda longe de ser revelada em toda a sua extensão. No Algarve, por responsabilidade exclusiva dos sucessivos governos, dos partidos da troika e do Presidente da República, cresce o desemprego, a pobreza e a fome. E é contra este rumo de desastre que serve o grande capital, mas que não serve nem a região, nem o país que se indignam, protestam e lutam os trabalhadores e as populações.

3- A DORAL do PCP valoriza o significado profundo de, nos últimos meses, vencendo o medo, a repressão, o condicionamento económico, os convites ao conformismo e à resignação, milhares de trabalhadores, de reformados, de jovens terem participado combativamente em várias acções de luta contra a exploração e o empobrecimento, por um outro rumo para o país. É disso particular exemplo a Greve Geral de 22 de Março convocada pela CGTP-IN, que envolveu milhares de trabalhadores em todos os sectores da região impondo o encerramento e a paralisação em várias actividades – recolha de lixo; portos e barras; escolas; Juntas de Freguesia; empresas do sector privado; circulação ferroviária, etc – para além de outras adesões significativas que se expressaram também nas várias concentrações de trabalhadores que decorreram ao longo do dia em várias cidades.

 Num quadro em que, perante a ofensiva em curso, ganha cada vez maior importância a intensificação e diversificação das lutas dos trabalhadores e das populações a DORAL do PCP saúda: as diversas acções desenvolvidas pelos trabalhadores do sector da hotelaria contra os salários em atraso; os jovens que participaram na jornada de luta de 31 de Março promovida pela Interjovem em Lisboa; as populações e os trabalhadores das autarquias que participaram na manifestação em Lisboa contra a extinção de freguesias; as comissões de utentes e as organizações representativas dos trabalhadores do sector da saúde que se mobilizaram contra a destruição do SNS; as diversas acções promovidas em vários concelhos contra o aumento dos preços dos bens e serviços imposto pelas câmaras municipais de maioria PS e PSD com ou sem o CDS.

 A DORAL do PCP apela à intensificação do protesto e da luta contra a política do Pacto de
Agressão e por um Portugal com futuro. As comemorações do 25 de Abril em toda a região e, em particular, a manifestação marcada pela CGTP-IN para Faro no próximo 1º de Maio assumem, no actual quadro político, um grande significado, pelo que contarão com o envolvimento e participação dos militantes comunistas em toda a região.

4 – Num ano particularmente exigente, os comunistas do Algarve reafirmam o seu empenhamento na luta por uma ruptura com a política de direita, por uma política patriótica e de esquerda, pela democracia e o socialismo.

Objectivos que têm associados o reforço do Partido nas suas diferentes dimensões, a intensificação da luta de massas, o alargamento da influência do PCP, uma forte e diversificada iniciativa política.

Neste âmbito a DORAL do PCP destaca:

- As tarefas de preparação, já iniciadas, do XIX Congresso do PCP que decorrerá nos dias 30 de Novembro, 1 e 2 de Dezembro em Almada - inseparável das medidas em curso de reforço orgânico designadamente da campanha de 2000 novos membros para o PCP.
- As múltiplas iniciativas comemorativas do 25 de Abril promovidas pelo PCP que decorrerão em 15 localidades do Algarve ao longo dos próximos dias.
- A acção contra a introdução de portagens na Via do Infante que se realizará ao longo da EN125 no próximo dia 18 de Maio.
- O conjunto de iniciativas de esclarecimento e contacto com a população que estão em curso em torno de diversas questões: legislação laboral; habitação; preço da água e estacionamento; acesso à saúde; defesa do aparelho produtivo.
- As tarefas de divulgação, preparação e participação do Algarve na próxima Festa do Avante! que decorrerá nos dias 7, 8 e 9 de Setembro.
 
A Direcção da Organização Regional do Algarve do PCP

25 DE ABRIL

POR ABRIL,
             
COM ABRIL,
            
25 de ABRIL SEMPRE !




quinta-feira, 19 de abril de 2012

UM PARTIDO QUE NÃO FICA A ESPERA


 

       por Vasco Cardoso     
       Membro da Comissão Política

         
Um Partido que não fica à espera
                    
Ao contrário daquilo que os centros de decisão do poder económico, e também político, procuram impor no plano ideológico, o pacto de agressão que está em curso não foi uma ruptura com a política de direita que vinha de trás. Foi sim, a sua aceleração e agravamento visando o aumento da exploração, o saque dos recursos nacionais, o empobrecimento, a degradação do regime democrático, a limitação da soberania nacional.                          

O ritmo vertiginoso que está a ser imposto – com novas (velhas?!) e gravosas medidas a serem anunciadas dia após dia – diz-nos como é que as classes dominantes encaram esta fase da vida nacional e da própria crise do capitalismo: uma «oportunidade» para liquidarem o que não conseguiram liquidar ao longo de mais de três décadas de contra-revolução. Um ajuste de contas com tudo quanto de mais avançado foi alcançado com Abril.
O grande capital conta com um governo PSD/CDS-PP inteiramente ao seu serviço. A sua composição – com gente vinda directamente dos grupos económicos, como é o caso do ministro da Saúde – é um exemplo disso. Mas é sobretudo a sua actuação, seja em questões transversais como as alterações à legislação laboral, seja em múltiplos exemplos concretos como o roubo dos subsídios de férias e de Natal, que nos mostra a natureza de classe da sua política. Seria no entanto errado reduzir tudo isto à acção do Governo.


Uma política à imagem do Presidente

Cavaco Silva, no seu já longo percurso, ganhou o direito de figurar entre os principais responsáveis pela destruição das condições de vida de milhões de portugueses ao longo dos últimos 25 anos. Não há nódoa na vida nacional que não tenha o seu dedo, a sua iniciativa ou envolvimento. Das criminosas privatizações à generalização do trabalho precário. Da obediência servil às imposições da União Europeia à repressão sobre os trabalhadores. Da tentativa de destruição do SNS e da escola pública aos escândalos de corrupção como o do BPN. Cavaco esteve em todas.
Cavaco foi enquanto ministro e primeiro-ministro e, agora, como Presidente da República, um homem de mão dos principais grupos monopolistas. Esse mesmo reconhecimento teve-o na última campanha eleitoral naquele simbólico abraço dado por Belmiro de Azevedo.
Meses depois, Cavaco receberia os banqueiros sob o olhar das câmaras e associava-se ao governo PS, ao PSD e ao CDS, no accionamento do processo de intervenção externa do FMI e da UE. De então para cá, apesar das várias intervenções públicas em que procura sacudir responsabilidades, Cavaco é a «voz dos mercados». Aquele que, em confronto com a Constituição da República, ampara e estimula tudo quanto o Governo quer impor. Hoje, como antes, Cavaco é parte do problema e não da solução.

PS – apoiar a política do Governo fingindo-se oposição

O PS carrega igualmente a marca de quem serviu ao longo de décadas os interesses das classes dominantes. De Soares a Sócrates o PS fez mais de que uns simples «fretes» à direita. Foi autor material da política de reconstituição monopolista, de sucessivas revisões da Constituição, dos contratos a prazo, do encerramento de serviços públicos, dos PEC, da submissão à UE e à NATO. As suas ligações ao grande capital, numa teia de interesses em que cada um destes partidos se movimenta, estão gravadas ao longo dos anos nos exemplos de Jorge Coelho/Mota-Engil, Armando Vara/BCP, Luís Amado/Banif, etc.
Hoje, fora do governo, os «repuxos de eloquência» da actual direcção não chegam para apagar responsabilidades. Da «abstenção violenta» ao Orçamento do Estado, passando pelas múltiplas declarações de voto nas alterações à legislação laboral, até ao chamado «Protocolo Adicional» que pretendiam aprovar para esconder o voto a favor do «Pacto Orçamental da UE», o PS faz o caminho da demarcação retórica do Governo ao mesmo tempo que apoia o essencial da sua política.
O PS não está neste Governo, não porque esteja contra a sua política, mas porque – nos interesses do grande capital – não foi preciso.

As muitas exigências que se colocam ao nosso Partido

Tal como noutros momentos, aos trabalhadores e ao povo português não se coloca apenas o objectivo de derrotar este Governo, mas o de derrotar a sua política. A diversificação, alargamento e intensificação das lutas terão uma importância cada vez mais decisiva, não só para atrasar, barrar e impedir a concretização de muitas das medidas do pacto de agressão, mas também para consolidar um processo de acumulação de forças que seja capaz de impor a sua rejeição.
A ruptura com a política de direita que o PCP tem vindo a propor ao povo português, a ruptura com os interesses do grande capital monopolista, com o processo de integração capitalista da União Europeia, com o rumo de exploração e empobrecimento que está a ser concretizado – e que abra caminho a uma política patriótica e de esquerda – é uma questão de fundo na vida política nacional.
O Partido não ficará à espera que essa compreensão se alargue entre os trabalhadores e o povo português por si. Na resposta à situação actual, as necessidades de reforço do Partido e de desenvolvimento da luta de massas cruzam-se e interagem entre si, e exigem um grande esforço dos quadros e das organizações do PCP numa intervenção diária sem paralelo na vida nacional. Estas duas condições – luta de massas; reforço do PCP – revelam-se como as mais decisivas e determinantes para impor outro rumo para o País. E por tudo isto, estarão no coração da preparação do XIX Congresso do PCP e nas muitas lutas que travaremos pela democracia e pelo socialismo.


quarta-feira, 18 de abril de 2012

ACERCA DO SALÁRIO DE SUBSISTÊNCIA




Acerca do salário de subsistência
                        
Economia por Vaz de Carvalho
             

No momento em que o ataque aos salários e direitos laborais e sociais dos trabalhadores e ex-trabalhadores se intensifica é oportuno refletir sobre o «salário de subsistência»: em que consiste e o que representa.
                                                    
O salário de subsistência não é o mínimo fisiológico para um trabalhador se manter vivo e operacional durante um certo tempo, só em termos de escravatura este padrão se verifica (1).

Em termos marxistas o salário de subsistência consiste no necessário para vestir, alimentar, alojar adequadamente um casal de trabalhadores e para garantir a reprodução da força de trabalho – no mínimo os seus dois filhos. Tem além disso em conta os hábitos sociais de consumo ou lazer que se transformaram em necessidades. «É totalmente indiferente se do ponto de vista fisiológico um meio de consumo é necessário ou não, basta que em conformidade com o hábito um tal meio de consumo se torne necessário» (2).

Um outro aspecto a considerar é que na medida em que se reduzem as prestações e os direitos sociais, o salário teria de ser aumentado para pelo menos manter o mesmo nível de subsistência. É o caso dos custos com a saúde, educação, transportes (existência e facilidade de transportes públicos), etc. A própria segurança no emprego e na terceira idade importa, sendo necessário que o trabalhador caso não disponha de adequados direitos laborais e sociais, tenha o necessário para garantir justamente a sua manutenção e a da sua família em previsíveis condições futuras.

Consideremos um casal de operários, no caso de ambos trabalharem: o salário da família deverá corresponder ao necessário para a existência de aparelhagens e de contratações para facilitar a realização dos trabalhos domésticos, caso contrário a sua jornada de trabalho não seria de oito horas, mas ficaria ao nível do que havia no século XIX – e o que vai ocorrendo neste século XXI sob o efeito da globalização neoliberal que coloca trabalhadores e trabalhadoras ao nível da semi-escravatura.

Falámos em reprodução da força de trabalho e num casal de operários. O seu salário deverá então corresponder à formação de dois novos operários? As coisas não podem passar-se exactamente assim. Isto seria verdade numa sociedade sem desenvolvimento tecnológico e sem crescimento, isto é, no que Marx definiu como de reprodução simples e não de reprodução alargada. Nas condições de reprodução alargada e desenvolvimento tecnológico os filhos destes operários terão de ter em crescente proporção licenciaturas ou pelo menos formação escolar mais alargada e qualificada. O salário do casal terá portanto que permitir custear as despesas com esses estudos, que serão crescentes na medida em que se reduzirem as prestações sociais.

Portanto a noção de salário de subsistência é tanto uma questão social como um importante elemento do desenvolvimento económico.

A afirmação de que «pobreza, gera pobreza» é, como se vê, assim justificada.
Não só em Portugal, mas também na UE a generalidade dos jovens de hoje não dispõe, nem de salário nem de segurança para constituir família, criar e manter adequadamente dois filhos. Vivem na dependência dos pais e na precariedade com salários de miséria. É assim que na UE em 2008 cerca de 46% dos jovens continuavam a viver em casa dos pais, apesar de mais de metade destes ter então um emprego a tempo inteiro ou parcial. Em Portugal a percentagem de jovens entre os 18 e os 34 anos que viviam com os pais rondava os 59%. Além disto na EU, 16% dos jovens estavam em risco de pobreza e 35,8% tinham emprego com contratos a prazo. Em Portugal esta percentagem ultrapassava os 50 por cento.
 Como se vê, a «flexibilidade» traduz-se pela redução das condições de subsistência.

Segundo a Eurostat, em 2010, 23% dos cidadãos de UE estavam em risco de pobreza e exclusão social (3); desde então como é evidente as condições só pioraram.

Pobreza e precariedade

É particularmente grave o que se passa com as condições de trabalho e o desemprego dos jovens que atinge valores de cerca do dobro do nível geral. Em 2009 já o desemprego jovem era na UE 19,6% (4). É a trágica realidade que as políticas de agressão social da troika impõem.
Para onde se caminha com este rumo? Para um salário de equilíbrio económico e social? Não, que isso corresponderia à intervenção do Estado numa estratégia antimonopolista garantindo o aumento da produção e o aumento dos salários. As políticas recessivas do neoliberalismo são disto a antítese: são a monopolização da economia, a crise, as falências, o desemprego, a saída dos lucros para paraísos fiscais em busca de rendimentos especulativos. O resultado destas políticas conduziu os salários abaixo do nível de subsistência necessário para a reprodução da força de trabalho em termos de desenvolvimento económico e social sustentável.

A situação, mesmo para jovens licenciados, seria ainda mais dramática se não fossem as ajudas dos pais. Que acontecerá, se o rumo não for invertido, quando não puderem mais contar com estes apoios? Que podem esperar as gerações mais novas e as futuras desta insanidade que são as actuais políticas?
O aumento das qualificações não gerou nem segurança nem melhores condições de vida: com este modelo de sociedade, apenas se aumentou a oferta do mercado de trabalho logo, segundo a lógica do capital, fez diminuir o seu preço – é o que se passa com a nova geração de licenciados.

É oportuno recordar esta passagem de F. Engels, na suaCrítica ao Programa de Erfurt, em 1891: «É possível que a organização dos trabalhadores e a sua resistência oponham uma certa barreira ao crescimento da miséria. Mas o que aumenta certamente (em capitalismo) é a incerteza da existência».

A degradação da situação social e em particular a laboral traduz-se na pobreza e na precariedade: nos finais de 2010, cerca de 37% dos trabalhadores ganhavam menos de 600 euros de salário mensal líquido; apenas 34% tinham salários superiores a 900 euros mensais; cerca de 1/3 dos trabalhadores estava em situação precária, com a perda de direitos, inclusive os mais elementares, que isto representa. Contudo, já em 2010 o Relatório de Outono 2010 do Banco de Portugal registava (pág.81) «forte desaceleração dos custos unitários do trabalho no contexto de um crescimento significativo da produtividade por trabalhador». Então a culpa da crise é de quem? Dos trabalhadores, como se vê, não é certamente.

Nas pretendidas alterações às leis do trabalho considera-se sem pejo os trabalhadores como «coisas» em absoluto descartáveis e sem direitos, apenas custos a reduzir.
Dizia Marx: «Pôr no mesmo pé os custos de fabrico de chapéus e os custos de manutenção do homem é transformar o homem em chapéu» (5).

Por acção das políticas actuais que o «pacto de agressão» para Portugal consagra, a trágica consequência é o contínuo agravamento das condições económicas e sociais. Desta forma os salários continuarão a descer muito abaixo do nível de subsistência. O que significa decadência quer em termos económicos, quer sociais e civilizacionais.
O sistema capitalista pretende garantir os seus lucros através da crise, do desemprego, como forma de «racionalizar» a produção. Os níveis de vida da classe trabalhadora são drasticamente reduzidos e recursos produtivos permanecem sem serem utilizados – como é o caso dos Estaleiros de Viana e de muitas outras unidades produtivas.

Neste contexto, pretende-se que os trabalhadores se sintam cada vez mais limitados no seu direito à reivindicação e à greve. Ou seja, pôr de volta informalmente pelos constrangimentos da subsistência a lei Chapelier que proibia as associações de operários, só revogada em 1881.
O salário de «mercado livre», «não é outra coisa senão o mínimo de salário» (5).
O sistema capitalista vê o salário como um custo; na realidade o salário é um elemento essencial dos equilíbrios económicos e sociais, ou seja, tem de ser visto também como um benefício social pelo que contribui pelo poder de compra dos trabalhadores para a dinamização da economia.

Quando a hipocrisia política vigente fala dos alegados «sacrifícios para todos», mais uma vez recordemos Marx. «O salário (eliminando as relações de produção capitalistas) será o resultado de uma convenção baseada na relação entre a soma das forças produtivas e a soma das necessidades existentes» (6).

domingo, 15 de abril de 2012

EM DEFESA DO SNS



Jornada nacional de luta

 em defesa do SNS
    

                                         

 PCP apresenta medidas para proteger a saúde e a vida dos portugueses
                                            

PCP defende Programa de Emergência

                                        

● Reforço da dotação financeira para o SNS, para que este possa atender aos seus compromissos com os doentes na fase crítica em que nos encontramos;


● Eliminação total, geral e universal das taxas moderadoras, designadamente para todas as consultas, exames complementares de iagnóstico e terapêutica praticados no SNS ou em entidades com ele convencionados;


● Redução do valor médio da comparticipação dos doentes nos custos da medicação em ambulatório para um máximo de 30 por cento (em 2011 foi de 36,9 por cento), representando um encargo anual de 145 milhões de euros com referência a 2011;


● Revogação do novo regulamento de transporte de doentes não urgentes, medida que representará um acréscimo de encargos para o Estado de cerca de nove milhões de euros por ano;


● Reforçar e capacitar a rede de assistência pré-hospitalar e promover o serviço telefónico de atendimento e encaminhamento de doentes;


● Criar condições para um efectivo acompanhamento e tratamento ambulatório em saúde mental;

● Renegociação ou denúncia das parcerias público privadas e a integração de toda a rede hospitalar no quadro do sector público administrativo;


● Estabelecer para um horizonte temporal até 2020, convenções com entidades do sector social e privados para assegurar o acesso a consultas, a meios complementares de diagnóstico e terapêutica e a cuidados continuados no domicílio ou internamento, nas situações em que esta seja a solução para resolver problemas de proximidade ou de incapacidade de resposta do SNS em tempo clinicamente aceitável;


● Priorizar a resolução dos problemas que se verificam nos cuidados primários, onde residem as principais dificuldades no acesso aos cuidados de saúde, restabelecendo os concelhos como base de organização administrativa dos cuidados primários e dotá-los dos meios financeiros, técnicos e humanos necessários ao cumprimento das suas missões, tendo presente que é aqui, nos cuidados primários, que reside o maior problema do SNS. É preciso inverter uma política de centralização hospitalar, retomando o percurso iniciado a seguir à Revolução de Abril que tantos ganhos em saúde trouxe ao país e aos portugueses;


● Valorização social e profissional dos profissionais de saúde, assegurando-lhes as condições de trabalho, de formação, de veículo, de carreira e remuneração que assegurem a sua máxima disponibilidade e qualificação e a estabilidade do serviço de saúde onde se encontram, no quadro do respeito pelas normas deontológicas que presidem à sua intervenção.

Ver aqui:http://www.avante.pt/pt/2002/emfoco/119557/

 
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