Porquê este blogue?

Num tempo muito inquietante, marcado por uma forte ofensiva ideológica, com a qual os média dominantes fazem chegar todos os dias a milhões de pessoas a desinformação organizada com o objectivo de servir e defender os interesses do grande capital, a leitura e divulgação de informação progressista e revolucionária é crucial para todos os que assumem como referência maior os valores e ideais de ABRIL!

A LUTA CONTINUA!

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

O INACEITÁVEL ENCERRAMENTO DE ESCOLAS EM LAGOS


         
Comissão Concelhia de Lagos
                                                   
 O INACEITÁVEL ENCERRAMENTO DE ESCOLAS EM LAGOS
                                                           
Agora que teve inicio o ano lectivo, decidiu a Câmara Municipal de Lagos pelo encerramento da escola do Sargaçal - com duas turmas de 12 e 14 alunos, e da escola EB1 nº 2 de Lagos – com três turmas que têm entre 24 e 25 alunos cada uma.
Pretende a Câmara Municipal que os alunos do Sargaçal sejam deslocados para o Chinicato, enquanto que relativamente aos alunos da escola EB1 nº2, uma turma irá para a Ameijeira e as outras duas turmas vão para a EB1 nº 3.
Esta intenção da Câmara Municipal é justificada com a falta de verbas. Uma inaceitável justificação face aos desmandos que a gestão financeira municipal tem demonstrado  ao longo dos anos. È inaceitável e repudiamos fortemente que critérios economicistas sobreponham-se a critérios de natureza social e pedagógica. Ainda mais inaceitável é que tal decisão seja tomada com ano o lectivo já a decorrer, gerando instabilidade nos alunos e nas famílias, mas também nos funcionários e corpo docente, seja das escolas que fecham, seja das escolas que têm de se acomodar a essa nova realidade.  
A comissão concelhia de Lagos do PCP manifesta a sua mais viva repulsa por esta decisão da Câmara Municipal e manifesta a sua solidariedade para com alunos, pais, funcionários e professores.
A comissão concelhia de Lagos do PCP considera que esta não é uma decisão irreversível e que se impõe organizadamente lutar contra tais intentos.
O PCP compromete-se desde já a usar todos os instrumentos para aclarar esta insensata decisão da Câmara que, sorrateiramente, nas costas da própria Assembleia Municipal, pretende impor tal objectivo.

29 de Setembro de 2011                            A Comissão Concelhia de Lagos do PCP       

Assembleia Municipal de Lagos 26/09/2011-Propostas da CDU



INVENTÁRIO DO PATRIMÓNIO CULTURAL E IMATERIAL
DO MUNICÍPIO DE LAGOS
                                                               
Esta proposta foi aprovada por unanimidade
                    

            Após a adopção da Convenção para a Protecção do Património Mundial, Cultural e Natural, em 1972, alguns Estados – membros, manifestaram interesse em ver criado um instrumento de protecção do património imaterial.                                    
            Assim a UNESCO viria a adoptar, em 1989, a Recomendação para a Salvaguarda da Cultura Tradicional e do Folclore.
            A Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial aprovada em Outubro de 2003, entrou em vigor a 20 de Abril de 2006.
            A Convenção de 2003 tem por objectivos:
a)      A Salvaguarda do Património Cultural Imaterial.
b)      O respeito pelo património cultural imaterial das comunidades, dos grupos e dos indivíduos  em causa.
c)      A sensibilização, a nível local, nacional e internacional, para a importância do património cultural imaterial e do seu reconhecimento mútuo.
d)     A cooperação e o auxílio internacionais, no quadro de um mundo cada vez mais globalizado que ameaça uniformizar as culturas do mundo aumentando simultaneamente as desigualdades sociais.
            Património cultural imaterial ou património intangível é uma concepção de património cultural  que abrange as expressões culturais e as tradições que um grupo de indivíduos preserva em respeito da sua ancestralidade, para as gerações futuras.  
            São exemplos de património imaterial: os saberes, os modos de fazer, as formas de expressão, celebrações, as festas e danças populares, lendas, músicas, costumes e outras tradições.
            A Resolução da Assembleia da República nº 12/2008 de 24 de Janeiro ratificou a Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial. Sendo posteriormente publicado o Decreto – Lei nº 139/2009 que aprova o regime jurídico da salvaguarda do património imaterial e que atribui ao Instituto dos Museus e da Conservação e às Direcções Regionais da Cultura a coordenação e o apoio à inventariação do património cultural imatrial.
           
            Face ao exposto  eleito da CDU na Assembleia Municipal de Lagos propõe:

            Que a Assembleia Municipal de Lagos delibere recomendar à Câmara Municipal de Lagos que proceda às diligências necessárias para a criação do inventário do Património Cultural Imaterial do Município de Lagos.
            Convidando para o efeito as Juntas de Freguesia, escolas, associações e demais munícipes interessados.


            Lagos, 26 de Setembro de 2011                     
                                                                                          O Eleito da CDU
                                                        
                                                                                         José Manuel Freire

Assembleia Municipal de Lagos 26/09/2011-Propostas da CDU



CRIAÇÃO DE HORTAS URBANAS MUNICIPAIS
                       
Esta Proposta foi reprovada com os votos do PS
                           
            Considerando que:
1.      A criação de hortas urbanas é uma iniciativa que permite simultaneamente:
·         Ocupar de uma forma sadia, os tempos livres dos munícipes;
·         Reduzir os gastos das famílias na aquisição de produtos alimentares;
·         Ocupar terrenos municipais devolutos que, normalmente, constituem um problema em termos de ( in ) segurança das populações e de custos de manutenção;
·         Contribuir para a redução da ocupação indevida de terrenos municipais;
·         Divulgar boas práticas em termos de agricultura biológica e em termos de reciclagem de resíduos;
·         Possibilitar a inúmeros munícipes e em especial às crianças das zonas urbanas, um contacto directo com a Natureza.
E dado que:
            A profunda crise económica e social que se vive no País, que tem uma particular incidência na nossa Região, levou ao brutal aumento do desemprego e à existência de muitas situações de carência económica e alimentar.
            O eleito da CDU propõe que:
            A Assembleia Municipal de Lagos delibere recomendar à Câmara Municipal de Lagos que:
  1. Seja efectuado um levantamento dos terrenos disponíveis que reúnam condições para a criação de Hortas Urbanas.
  2. Organizar o processo de delimitação e atribuição dos lotes disponíveis aos munícipes interessados, bem como um regulamento de utilização.
  3. Estabelecer um protocolo de colaboração com a ALGAR com vista ao desenvolvimento desta iniciativa.  
Lagos, 26 de Setembro de 2011                          O Eleito da CDU
                                                                            José Manuel Freire


Assembleia Municipal de Lagos 26/09/2011-Propostas da CDU

 
É URGENTE A CONSTRUÇÃO DO MATADOURO PÚBLICO
REGIONAL DO ALGARVE
                  
Esta proposta foi aprovada por unanimidade
                              
            O matadouro que existia no Algarve foi encerrado em 2007 por ordem da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica ( ASAE ) e, desde então, os produtores algarvios têm que ir abater os animais aos locais mais próximos, Beja e Montijo, com custos elevados devido à necessidade de transporte dos animais vivos até essas cidades, fazendo depois o percurso inverso com as carcaças.                       
            A existência de um matadouro no Algarve continua a ser apontada como necessária por produtores de carne, pelas autarquias locais e pelas autoridades regionais de agricultura.
            Esta preocupação tem sido manifestada também  pela ASCAL nas reuniões realizadas com a Comissão Especializada da Assembleia Municipal.
            Considerando que no passado dia 6 de Abril a Assembleia da República aprovou a Resolução  nº 97/2011 cujo teor se transcreve:
            « A Assembleia da República resolve, nos termos do nº 5 do artigo 166º da Constituição, promover a construção do matadouro público regional do Algarve, solução imediata de abate  para as características de produção animal da região, no sentido de ultrapassar os constrangimentos causados aos produtores, com consequências para os consumidores e para a economia da região ».

            O eleito da CDU na Assembleia Municipal de Lagos propõe:

            Que a Assembleia Municipal de Lagos solicite informações à Assembleia da República e ao Ministério da Agricultura, do Mar do Ambiente e do Ordenamento do Território sobre as diligências efectuadas para a concretização da Resolução nº 97/2011 de 6 de Abril.

            Lagos, 26 de Setembro de 2011                              O Eleito da CDU
                                                                                            José Manuel Freire

Assembleia Municipal de Lagos 26/09/2011-Propostas da CDU



PELA CLASSIFICAÇÃO DA RIA DE ALVOR COMO ÁREA PROTEGIDA
                                         

Esta proposta baixou à Comissão Permanente da AML
                              

            Desde a década de 70 que a Ria de Alvor tem sido objecto de vários estudos e debates quanto à melhor forma de conciliar os interesses das populações locais e a salvaguarda do seu património natural e cultural.                                                                                        
            Em 1980 o  Instituto Nacional da Investigação e Pescas, propôs a criação  de uma Reserva natural na Ria de Alvor, que mereceu a concordância do Secretário de Estado do Ambiente de então.
            Em 1988 o Serviço Nacional de Parques apresentou um projecto para a criação da Área protegida da Ria de Alvor.
            Em 1991 foi aprovado o Plano Regional de Ordenamento do Território do Algarve, no qual se definem  as zonas húmidas da Ria de Alvor como áreas de protecção da natureza.
            Em 1992 foi criado, para funcionar junto do Ministério do Ambiente, um grupo interministerial com o objectivo de  serem criadas regras de ordenamento e gestão da Ria de Alvor.
            Em 1995 foi aprovado o Plano Regional de Turismo do Algarve, onde se define que a Ria de Alvor deve ser assumida como « Zona Tampão », reconhecida pelo seu valor natural de zona húmida.
            Em 1996 o Instituto de Conservação da natureza ( ICN ) apresentou a 1ª fase da lista  nacional de Sítios a integrar a Rede Natura 2000, sendo que a Ria de Alvor foi excluída, mesmo possuindo cerca de 1 700 hectares onde estão identificados habitats e espécies referenciados pela União Europeia.
            Em 2000 o ICN voltou a propor a integração de 833 hectares ( de um total de 1 454 hectares ) da Ria de Alvor na 2ª fase da Rede Natura, deixando de fora terrenos, onde estão classificados habitats e aves  incluídos nas listas das directivas Comunitárias, que pertencem a empresários com actividade na área do imobiliário.
            Em 2000 a Ria de Alvor é integrada na rede Natura e é assinado um protocolo entre a Câmara Municipal de Portimão e o ICN para elaboração de um Plano de Pormenor para a Ria de Alvor, que nunca foi executado.
            Em 2004 foi criada uma comissão intermunicipal entre as Câmaras Municipais de Portimão e de Lagos com vista à criação da área de paisagem protegida intermunicipal da Ria de Alvor a integrar a Rede Nacional das Áreas Protegidas.
            Em Fevereiro de 2005 foram aprovados pela Assembleia Municipal de Lagos os Estatutos da Associação de Municípios da Ria de Alvor ( Lagos / Portimão ).
            A Associação tem como principal objectivo a criação de uma Área Protegida, a  defesa, valorização e ordenamento da Ria de Alvor.
            Sendo internacionalmente reconhecida a importância da Ria de Alvor, que determinou a sua classificação como Sítio, ao abrigo da Convenção sobre as Zonas Húmidas de Importância Internacional e a sua inclusão na Rede Natura 2000.
            Encontrando-se a nível nacional, incluída na Rede  Biótopos Corine, os seus solos classificados nas reservas Ecológica e Agrícola Nacionais e como Espaço de Fomento Agro-Florestal, integrando ainda a Lista Nacional de Sítios.
            Considerando que todos os instrumentos de ordenamento e desenvolvimento da Região do Algarve reconhecem a importância da área que abrange a Ria de Alvor como património a preservar.
            Considerando que a nível geológico, a Ria de Alvor é o melhor exemplar de uma baía – barreira em toda a Europa e o melhor conservado a nível da zona mediterrânica.
            Considerando serem estimados em 85 % os sapais salgados existentes no Barlavento Algarvio que desapareceram nos últimos 100 anos.
             Considerando que a importância da Ria de Alvor ultrapassa largamente o interesse regional, sendo a área a proteger e os valores que comporta de interesse nacional, não se entende como nem por que ainda não foi criada a Reserva Natural da Ria de Alvor.

            Nestes termos o eleito da CDU na Assembleia Municipal de Lagos propõe:
            A adopção, imediata das medidas necessárias à criação da Área Protegida da Ria de Alvor e que a mesma seja classificada como Reserva Natural da Ria de Alvor.

            Lagos, 26 de Setembro de 2011

                                                                                              O Eleito da CDU

                                                                                             José Manuel Freire

Assembleia Municipal de Lagos 26 /09/2011-Propostas da CDU



Assembleia Municipal de Lagos 

8600-668 Lagos  

                                              

Assunto: VOTO DE PESAR                                        


            No passado dia 2 de Setembro faleceu David Arnaldo Paulo de Oliveira.                             
            Lacobrigense por opção, ao longo da sua vida profissional em Lagos exerceu diversas actividades, das quais destacamos director de produção da fábrica de mármores IMAAL. Professor na Escola Gil Eanes e empresário hoteleiro.
           Como cidadão amante da democracia e após o 25 de Abril foi eleito para a Primeira Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Lagos, de 1974 a 1976.
            Foi eleito para a Assembleia Municipal de Lagos nos mandatos de 1980 a 1982 e 1983 a 1985.
            Em sua memória, propomos:
            Que a Assembleia Municipal de Lagos reunida a 26 de Setembro delibere:
1.       Manifestar o seu voto de pesar pelo falecimento de David Arnaldo Paulo de Oliveira, cumprindo um minuto de silêncio.
2.      Expressar as suas sentidas condolências à sua esposa  e filhos.


Lagos, 26 de Setembro de 2011
           
                                                                                       O Eleito da CDU
                                                                                       José Manuel Freire
-Esta proposta foi aprovada por unanimidade-
           

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Livro Verde da reforma administrativa do Poder Local



Sobre o «Livro Verde da reforma administrativa do Poder Local»
                          
Derrotar o programa de subversão do Poder Local
defender os direitos das populações

                                                  
1.O agora anunciado “Livro Verde” (negro, e não verde se ao conteúdo se fizesse corresponder a cor) para a reforma administrativa do poder local constitui um verdadeiro programa de subversão do poder local democrático, uma nova e mais despudorada tentativa de concretização da velha ambição dos partidos da política de direita de ajustar contas com uma das mais importantes conquistas de Abril.
As propostas agora anunciadas, acobertadas pelo programa de agressão e submissão que PSD, CDS e PS subscreveram com a troika estrangeira, visam, ao arrepio da Constituição da República, liquidar a autonomia das autarquias e reconstituir um modelo de dependência e subordinação existente até ao 24 de Abril.


 2. De facto, com a inteira colaboração do PS e dando continuidade a orientações e opções ensaiadas ou adoptadas em momentos anteriores, o governo prepara um salto qualitativo na ofensiva contra o poder local democrático. Um ataque que constituiria, a concretizar-se, a completa descaracterização dos elementos mais progressistas e avançados do poder local, a liquidação do que ele representa enquanto conquista de Abril com os seus elementos diferenciadores: um poder local amplamente participado; plural, colegial e democrático; dotado de uma efectiva autonomia administrativa e financeira; ocupando um lugar na organização democrática do Estado não subsidiário, nem dependente do nível central. Este programa de agressão ao poder local é, na sua essência e consequências, um programa de agressão às populações e às suas condições de vida, um factor de constrangimento do desenvolvimento económico e de agravamento de assimetrias regionais, de retrocesso da vida democrática local.


3. Sob um manto de falsidades e de formulações generalizantes, o pacote legislativo hoje anunciado visa nos seus eixos centrais e em concreto:
- o desfiguramento do sistema eleitoral com a eliminação da eleição directa das Câmaras e a imposição de um regime de executivos homogéneos, ferindo irremediavelmente não apenas as características plurais e democráticas hoje existentes, mas sobretudo consagrando um regime construído sobre o poder absoluto e a falta de controlo democrático, contendo em si mesmo ausência de transparência e factores de corrupção. Um desfiguramento acompanhado ainda de uma significativa redução do número de eleitos, lesiva do carácter
participado e democrático do poder local. Em rigor, pode afirmar-se que o que agora é proposto tem subjacente uma concepção que ainda mantém o princípio da eleição (embora irremediavelmente limitada e amputada) mas que já não disfarça a ambição dos seus autores de impor um sistema de governação local que, à boa maneira do fascismo, tratava de nomear presidentes de câmaras e regedores para as freguesias, remetendo a gestão política para os chefes de secretaria municipais;
- a instituição de um regime de finanças locais, assente numa dinâmica de tributação adicional e penalizante sobre as populações, reduzindo os factores de coesão e eliminando o princípio constitucional da “justa repartição entre a administração central e local dos recursos do Estado”;
- a eliminação, de facto, da autonomia administrativa com a substituição da tutela inspectiva por uma tutela de mérito e integrativa e a subversão do actual regime de atribuições e competências, com a intenção de transferir competências municipais para estruturas supra municipais, numa inversão completa do que deve ser um efectivo processo de descentralização, a que as regiões administrativas dariam também corpo. O que agora se reapresenta é a repetição da reforma fracassada do então Secretário de Estado Miguel
Relvas (2003), uma intenção que não serve o poder local nem uma efectiva política de descentralização. Antes constitui uma tentativa de despojar os municípios de numerosas atribuições e competências, afastando ainda mais as populações dos centros de decisão e diminuindo a sua participação;
- e ainda uma “reforma administrativa” que, com a eliminação de um número significativo de freguesias e municípios, visa a redução substancial da participação política, eliminar a proximidade entre os titulares de órgãos públicos e cidadão e retirar expressão e força à representação dos interesses locais.


4. O PCP dirige-se à população, ao movimento associativo e outras organizações presentes na vida local, aos eleitos em geral (incluindo muitos daqueles que pertencendo a outras força políticas reconhecem e identificam o poder local com um espaço de promoção de progresso, bem-estar e desenvolvimento), aos trabalhadores da administração local, aos patriotas e democratas para que ergam a sua voz e manifestem a sua oposição aos
projectos de liquidação do poder local democrático, de mutilação de princípios
constitucionais e de empobrecimento da vida e do regime democrático. A Comissão Política do Comité Central do PCP reafirma o seu total empenhamento na defesa de um poder local
com provas dadas na promoção dos interesses populares, assegurando que os comunistas e os seus aliados na CDU, eleitos e não eleitos, intervirão activamente para resistir e derrotar este projecto, reafirmando que, também pelo que agora se conhece neste domínio, a rejeição do programa de agressão e submissão constitui um imperativo nacional, na luta por um Portugal com futuro.

26.9.2011
A Comissão Política do Comité Central do PCP


domingo, 25 de setembro de 2011

1 DE OUTUBRO – DIA DE LUTA


1 DE OUTUBRO – DIA DE LUTA
                                           
      
 Por Rui Fernandes   
Responsável da DORAL / PCP                                



Falar de luta nos tempos que correm é considerado por muitos uma heresia. Esses mesmos, dizem que aquilo que é preciso é trabalhar. Sempre se poderia responder que uma e outra coisa não são incompatíveis. Mais, são mesmo parte constitutiva da vida dos trabalhadores e dos povos. Mas no caso da presente situação que se vive, lutar é mais do que uma necessidade, é mesmo uma obrigação. Uma obrigação em nome da dignidade. Uma obrigação em nome da verdade.

Em nome da verdade porquê? Porque se é lamentável que esse tal pacto com a troika tivesse sido firmado, colocando o nosso país numa condição de protectorado, mais lamentável e vergonhoso é que se alimentem equívocos sobre a sua natureza e os seus resultados, e se faça dele o chapéu que justifica todos os desmandos contra os direitos.

O documento apresentado pelo governo (ministro Vítor Gaspar) sobre a estratégia orçamental 2011/2015 diz que a divida vai passar de 92,9% do PIB em 2010 para 106,8% em 2015, e que o PIB cairá para valores de 2004. Portanto, se alguém distraído pensa coisa diferente é bom que se concentre e deixe as ilusões no armário. Aquilo que está a ser feito é um plano de salvação da banca, do capital financeiro e dos seus esquemas, e não do país. Como há muito dissemos, uma parte substancial do dinheiro que é injectado em Portugal vai directo para a banca, e o estafado argumento, com que pretendem iludir os portugueses, de que isso é preciso para dinamizar a economia, é desmentido pela redução dos empréstimos concedidos, pelos juros altíssimos pedidos que tornam impraticável o acesso aos mesmos, pelos milhares de falências e insolvências que estão a ocorrer.

Participar na jornada de luta do próximo dia 1 de Outubro, convocada pela CGTP-IN, é um acto de dignidade. Dignidade em defesa de direitos básicos. Como se pode aceitar o corte nos abonos de família? O corte em questões básicas na saúde, inclusive no transporte de doentes? O corte no direito ao subsídio de desemprego? A facilitação de despedimentos num país e numa região com um tão alto nível de desemprego? O aumento brutal da electricidade e do IVA com o impacto que vai ter nos produtos básicos?

Como aceitar e compreender a privatização de empresas que, além do seu papel estratégico, dão lucros de milhões? Milhões que depois irão para os bolsos privados. Como aceitar o processo em curso de privatização da água? Como aceitar que crianças com necessidades educativas especiais vejam apoios cortados?

Isto não são medidas para combater a denominada crise. Isto são medidas que aproveitam o chapéu da crise para subverter e destruir conquistas fundamentais dos trabalhadores e do povo português. A não ser interrompido tal rumo, ficaremos com um país mais pobre, com mais desigualdades, mais miséria, desemprego e divida por pagar.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Nós também somos madeirenses


Nós também somos madeirenses
                                                     
Por Bernardino Soares       
Membro da Comissão Politica 
    
                                                                                         
 A dado passo em A Jangada de Pedra, de José Saramago, quando a Península Ibérica e os seus povos já iam mar adentro, isolados do resto da Europa, alguém escreveu numa parede do continente uma frase solidária: Nous aussi, nous sommes ibériques. A coisa repetiu-se por muitas línguas e lugares, chegando até ao Vaticano onde em latim se escreveu: Nos, quoque iberi sumus.                                           

Vem isto a propósito das notícias e reacções dos últimos dias sobre a dívida da Madeira. Ingénua ou deliberadamente tratou-se o que é a efectiva responsabilidade do PSD e de Alberto João Jardim na situação da dívida, como se fosse atribuível de igual modo ao povo da Madeira; misturou-se o efectivo enriquecimento de um punhado de empresários e empresas próximas do poder regional com a situação real de uma população fortemente atingida por desigualdades económicas e sociais; confundiu-se a efectiva e histórica discriminação do povo madeirense com a bazófia do discurso contra o «continente», instrumento privilegiado da propaganda jardinista; atribuiu-se à dívida da região a responsabilidade de consumir o valor que o Governo se prepara para roubar ao subsídio de Natal de trabalhadores, reformados e pensionistas.
E há ainda o discurso populista que propõe abandonar os madeirenses à sua sorte, já que têm eleito o PSD e Jardim, como se no todo nacional não tivéssemos Cavaco Silva na Presidência e a dupla Passos Coelho/Portas num Governo com maioria absoluta no Parlamento.
Este tipo de reacções serve vários interesses.
Serve desde logo ao PSD e a Alberto João Jardim, para desenvolver a linha de vitimização que é o cerne da sua campanha eleitoral. Serve, ainda no PSD, quer para tentar ilibar as suas direcções nacionais deste processo – como se o PSD/Madeira fosse coisa à parte –, quer para ajuste de contas antigas entre várias facções e protagonistas deste partido com Alberto João Jardim e a sua trupe.
Serve para esconder a cumplicidade dos governos com a governação da Madeira. Já poucos se lembrarão que o Governo PS/Guterres «limpou» uma dívida regional de cerca de 200 milhões de contos, valor da ordem dos actuais montantes, em troca de apoios à sua maioria relativa na Assembleia da República.
Serve também a todos os governos que perpetuaram o off-shore ali sediado, sorvedouro de benefícios fiscais e cujo volume de negócios, que não tem impacto na economia da região, ao ser contabilizado no PIB regional (com o apoio do governo regional), provocou a perda de 500 milhões de euros de fundos comunitários.
Serve ao CDS, que assim encontra um espaço para procurar demarcar-se da sua participação no Governo da República, como se isso nada tivesse a ver com as dificuldades dos madeirenses decorrentes do aumento do custo de vida e dos impostos, do roubo aos salários e pensões ou do ataque aos direitos laborais e sociais.
Serve ao PS cujo governo retirou, com a Lei das Finanças Regionais, só entre 2007 e 2009, 157 milhões de euros à região, que é o primeiro subscritor do pacto de agressão ao País, assinado com o FMI e a União Europeia, causa da destruição económica e social em curso, também na Madeira.
Serve ao actual Governo PSD/CDS, que procura branquear as medidas da sua política, a partir do descalabro da dívida regional e fazer avançar a sua ofensiva contra as autonomias regionais e o poder local democrático, procurando a centralização do poder e dos recursos.

Penalizados em triplicado

A situação da Região Autónoma da Madeira é muito grave. Mas essa gravidade não se restringe, nem se pode centrar, no volume da dívida, tais são as gritantes dificuldades, fruto de políticas regionais e nacionais, a que está sujeita a população. Não quer isto dizer que não seja indispensável apurar plenamente as responsabilidades pela situação da dívida. Como o PCP propôs já esta semana na região e na Assembleia da República, é necessário que o Banco de Portugal apure a totalidade da dívida regional, quaisquer que sejam as entidades que a contraíram e que se constitua uma comissão eventual para avaliar não só a questão da dívida mas também, o que não é menos importante, o destino dado a estes recursos financeiros nos últimos anos.
O que não é solução é penalizar em triplicado a população da Madeira: pela insularidade que continua a pesar fortemente nas suas condições de vida, com as medidas do programa de agressão em aplicação em todo o País e ainda com a aplicação de medidas adicionais na região que o Governo já perspectiva.
É por isso que nós também somos madeirenses: porque precisamos de rejeitar o programa de agressão ao País e aos portugueses que PSD, PS e CDS querem aplicar; porque precisamos de derrotar a política de direita que há décadas nos afunda; e porque precisamos de reforçar o PCP e de ter mais força política e também eleitoral, seja no todo nacional, seja nas próximas eleições regionais, para construir uma alternativa de esquerda.


terça-feira, 20 de setembro de 2011

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Portagem na Via do Infante, o PCP cumpriu!


   



   Direcção da Organização Regional do Algarve                                            
  
  
Comunicado 
                                                       
        Portagem na Via do Infante, o PCP cumpriu!
                                                                  
Os deputados eleitos pelo círculo do Algarve, dos partidos da Troika, PSD, PS e CDS/PP, mais uma vez deram o dito pelo não dito.
                                                                                                     
         Quem os ouviu e viu durante a última campanha eleitoral, certamente estará recordado das muitas promessas feitas, nomeadamente a promessa de um acérrimo combate à introdução de portagens na Via do Infante, quem os ouviu e viu agora, durante o debate e votação do projecto de resolução apresentado pelo grupo parlamentar do PCP na Assembleia da República, para a não introdução de portagens na referida via, certamente terá dificuldade em reconhecê-los.

         Já agora referir que, um desses deputados, por ventura o mais acérrimo combatente contra as portagens, em tempo de campanha eleitoral e não só, o deputado laranja Mendes Bota - talvez quem sabe, por lhe roer a consciência que certamente a terá? - não compareceu à chamada; não será este procedimento também uma das formas, das muitas que existem, de dar o dito pelo não dito?

         Nem perante, os factos concretos apresentados pelos deputados do PCP, que não deixam dúvidas a ninguém que, a Via do Infante não é pura e simplesmente uma SCUT que, parte significativa da sua construção foi financiada pelo Orçamento do Estado que, não preenche os requisitos legais de auto-estrada que, a ela não existe alternativa, pelo facto da E.N.125, tal como muitos disseram, e que hoje já não se lembram de ter dito, se assemelhar a uma via urbana, com passagem por muitas localidades e com um grande número de rotundas, via tristemente célebre pelos muitos acidentes mortais que tem provocado.

         A somar a estes pertinentes factos, é do conhecimento geral que o Algarve está a atravessar uma das maiores crises económicas e sociais de que há memória, mais de 30 mil desempregados, dezenas de micro e pequenas empresas a encerrar todos os dias, a agricultura a definhar-se, as pescas de mal a pior, o nível de vida de milhares de pessoas a baixar drasticamente, ressurgindo a um ritmo preocupante a fome, a miséria e os fenómenos da marginalidade que, estes factos negativos trazem consigo.

         Torna-se impossível contestar estes factos, mas mesmo assim, numa atitude no mínimo irresponsável e de completa submissão aos interesses do grande capital, que é quem se perfila para lucrar com a introdução das portagens, os partidos da troika e os seus deputados Algarvios, dando o dito pelo não dito, traindo, os interesses Nacionais e os interesses do Algarve em particular, criam mais um facto desestabilizador, que certamente terá repercussões negativas na recuperação da economia, quer do Algarve quer do País.

         Diz o povo que, perante factos não há argumentos, se tal como procedeu o PCP os partidos da troika, tivessem cumprido as suas promessas, a luta contra as portagens, estaria hoje noutro patamar, muito mais perto da vitória. Pela traição de alguns perdeu-se uma batalha, não significa porém que se tivesse perdido a guerra.

         A luta continua e no dia 1 de Outubro lá estaremos em Lisboa, mostrando o nosso descontentamento, a lutar contra os que estão empenhados em vender ao desbarato o nosso País, defendendo direitos e a soberania Nacional.

14 de Setembro de 2011                                                           O Secretariado da DORAL do PCP


terça-feira, 13 de setembro de 2011

Abertura do Ano Lectivo 2011/2012


 

Conferência de Imprensa: Abertura do Ano Lectivo 2011/2012
       
Declaração de Jorge Pires, da Comissão Política do PCP
   
                                                

Novo ano lectivo – problemas agravados pelo programa de agressão que está em curso
   
Na abertura do ano lectivo, o PCP chama a atenção para o facto de este se iniciar mergulhado num oceano de problemas que resultam de uma política educativa marcada por um ataque sem precedentes contra os direitos constitucionais nesta área.

O maior despedimento colectivo de professores de que há memória e a Instabilidade no corpo docente, milhares de auxiliares de educação em falta nas escolas por não terem sido renovados os contratos de trabalho, turmas com excesso de alunos, famílias sem saber se vão ter apoios da Acção Social Escolar (ASE) num momento em que precisam de adquirir os manuais e outros materiais escolares, escolas sem os meios humanos e técnicos para poderem ajudar os alunos com maiores dificuldades, centenas de escolas encerradas que obrigam a deslocações de dezenas de quilómetros por parte de crianças do 1º ciclo do ensino básico e um corte de 800 milhões de euros que se fará sentir sobretudo nestes últimos meses do ano, são alguns dos problemas que docentes, estudantes e pais, vão encontrar na abertura do ano lectivo.

Mas não ficam por aqui as malfeitorias que este governo se propõe realizar na educação nos próximos anos.

Comprometido com o programa de agressão que PSD, PS e CDS assumiram com a UE e o FMI e tal como se pode verificar no documento «Estratégia Orçamental 2011/2015», o governo insiste nos cortes cegos numa área que é estratégica para o país e fá-lo, com a consciência de que, ao mesmo tempo que favorece os interesses dos grupos económicos e financeiros, está a penalizar as novas gerações e a hipotecar o desenvolvimento futuro do país.

Nas medidas inscritas no documento, destacamos, pela sua gravidade: a racionalização da rede escolar assente na constituição de mais mega-agrupamentos e no encerramento de mais escolas do 1º ciclo do ensino básico, desta vez sem o estabelecimento de um número mínimo de alunos; o despedimento de mais uns milhares de professores; a alteração dos currículos, nomeadamente no ensino básico, retirando-lhes tudo o que seja considerado «não essencial», numa perspectiva que nos faz recuar ao 24 de Abril de 1974, quando se limitava o conhecimento das classes trabalhadoras a apenas “saber ler e escrever”; o corte de mais de 500 milhões de euros no orçamento para a educação em 2012, depois do corte de 800 milhões em 2011, num contexto de grande contracção do rendimento disponível das famílias e de um aumento significativo com os custos directos que querem impor na educação.

O resultado final desta política cuja matriz é profundamente reaccionária, será inevitável: diminuição na qualidade das aprendizagens e recuos significativos no combate ao insucesso e abandono escolares.

Há muito que o PCP tem vindo a denunciar o facto de o sistema educativo estar a ser alvo de profundas alterações, num processo em que as classes dominantes nunca perderam a perspectiva e nunca abandonaram o objectivo de transformar o ensino, não apenas numa mera mercadoria, mas também num instrumento de reprodução ideológica dos interesses do sistema associado ao aprofundamento do processo de exploração e acumulação capitalista.

Tem sido assim com os sucessivos governos, particularmente depois da cimeira de Lisboa em 2000, com a adopção de medidas de privatização do ensino e fragilização da Escola Pública, colocando-a cada vez mais em pé de igualdade com os negócios privados; com a generalização da precarização do vínculo laboral dos professores e a desvalorização da profissão docente; com sucessivas reformas curriculares, sempre com o objectivo de abandonar o paradigma da formação integral do individuo, empurrando para o ensino profissionalizante desvalorizado um número crescente de estudantes, particularmente das classes mais empobrecidas da população; com a transferência crescente dos custos com a educação para as famílias, levando ao abandono precoce da escola de milhares de jovens e a profundas desigualdades nas condições em que se desenvolve o percurso escolar de cada criança e jovem.

O mito que se criou em torno da actual equipa ministerial e da política educativa, que se diz promover a exigência, o rigor e a qualidade nas aprendizagens, contra o facilitismo, esbarra na contradição insanável que se encontra na relação entre o discurso e os objectivos que se propõem alcançar, e os resultados obtidos nos últimos anos por outras equipas que fizeram as mesmas opções de política educativa.

O sistema educativo e a Escola Pública estão hoje confrontados com um conjunto de problemas que só terão solução num contexto de rejeição do programa de agressão que está em curso e de  ruptura com a política de direita, abrindo caminho a uma outra política educativa que assuma a educação como um valor estratégico fundamental para o desenvolvimento do País e para o reforço da identidade e soberania nacional, com prioridade para um efectivo combate ao abandono e ao insucesso escolar e educativo.

Que rigor e exigência se pode esperar de uma criança que tem a única refeição quente do dia na escola?

Que rigor e exigência se pode pedir a um professor que vê a sua profissão desvalorizada profissional e socialmente, e quando muitos vivem anualmente a incerteza quanto à manutenção do posto de trabalho?

Que rigor e exigência se pode pedir a um professor e aos seu alunos quando são obrigados a trabalhar em salas de aula com excesso de alunos, como vai acontecer no ensino básico neste ano lectivo e quando todas as opiniões especializadas apontam o contrário como caminho certo para promover a qualidade no processo ensino/aprendizagem?

Que rigor e exigência se pode ter quando se estuda ou trabalha em escolas em que faltam milhares de auxiliares de educação que não viram os seus contratos renovados, profissionais indispensáveis ao bom funcionamento das escolas?

Que rigor e exigência se pode pedir a alunos e professores quando as escolas não têm os meios financeiros indispensáveis ao cumprimento das suas missões, chegando mesmo, muitas delas, ao ponto de nem sequer terem dinheiro para manter em funcionamento, o ar condicionado no verão e o aquecimento no inverno?

Numa sociedade que se quer mais desenvolvida e mais justa, a Educação e sobretudo a sua componente escolar, não pode ficar capturada por aqueles cujos interesses estão centrados no aumento da exploração e das injustiças sociais.

O país precisa de um ensino de qualidade que cubra o objectivo da democratização e as necessidades educativas individuais e sociais e da economia, tal como o PCP propõe. Objectivo que requer uma coerente linha de construção de uma Escola Pública, de qualidade, gratuita e para todos, que deve mobilizar as vontades intervenientes no processo educativo.

Neste sentido, o PCP anuncia desde já, a apresentação para breve de três projectos de Lei – (Um projecto de lei para a gratuitidade dos manuais escolares; um segundo para a constituição de gabinetes pedagógicos multidisciplinares e ainda um projecto lei que garanta a vinculação dos professores contratados e promova a estabilidade do corpo docente nas escolas) – que respondem à necessidade de resolver alguns dos muitos problemas que se colocam hoje ao nosso sistema de ensino e à Escola Pública e apela à comunidade educativa para que não se resigne perante as dificuldades e assuma a luta em defesa da Escola Pública e do acesso  a todos os níveis de ensino e ao sucesso escolar, como um imperativo nacional, uma luta que é inseparável da rejeição do programa de agressão ao povo português que está em curso.







Lisboa, 9 de Setembro de 2011

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A CIDADE BRANCA E AS CORES

                                                  
Texto por José Veloso                                                    
                    
Depois das leituras, depois dos debates, das teses e dos conceitos, de repente tudo isso leva-nos a perceber que a Cidade, uma Cidade, não é prédios e ruas. O que acontece no quotidiano do estar na Cidade, é que a temos diante dos olhos e dos sentidos, ou, mais exactamente, que estamos a viver a Cidade. E então realizamos que há que fazer por entende-la, saber o porquê dos encantamentos e das desilusões que transmite, das sensações que provoca, dos apelos e das recusas que dela nascem.                                                                                              

Lagos. O sentimento que desperta, é o do prazer de aqui estar. Percebe-se porquê. É uma Cidade que se deixa descobrir nos seus segredos, que cria surpresas, que se lê nas suas raízes e nas respostas que lhes soube dar, na calma serenidade do viver ao sul.

Lagos é uma Cidade, falamos das velhas ruas, praças e largos, das vistas e das chegadas ao mar que oferece, dizia eu, uma Cidade que ninguém construiu, no sentido de que ninguém foi dizendo como ia ser. Que se fez por si própria, que, parafraseando Sérgio Godinho, soube fazer-se de pequenas coisas, de vivencias, de sítios, recantos e perspectivas com o sempre presente mar ao fundo. Que se percorre sentindo a quási musicalidade que os seus poetas explicaram, que se percorre ao encontro da naturalidade das coisas simples, na autenticidade igual à com realidade dos vivos que sempre a viveram.

Sente-se que era assim, na velha zona urbana. Mas, hoje, mesmo sem falar das mutilações irremediáveis, levantam-se ali incredulidades. Uma, são os novos coloridos nos edifícios. 

 A tal velha Cidade, só velha na idade, que não como sítio para se habitar, Cidade branca e luminosa, meridional, dos claros-escuros da força e intensidade da luz sobre a cal pura da origem, dos brancos em contraponto com a presença dominante dos azuis do céu e do mar mediterrânico, surgindo tal como nestes surgem as nuvens, toda esta calma urbanidade, natural e orgânica, sem excitações, começa a se perder numa proliferação exibicionista de cores avulso, cuja coerência de opção se está por explicar. Que não tem a riqueza das dissonâncias, só o desagradável das intromissões.

Ora aqui, o branco nos edifícios corresponde a esta cultura em que os volumes e espaços da Cidade são consequência, de carácter quási espontâneo, das serenas relações interiores-exteriores da vivência urbana. Assim, a cor é, como se encontra nos sábios exemplos que se mostram aos olhos de quem aprendeu a vê-los, coerentemente utilizada em acentuações passivas, não como referencia volumétrica ou de superfície, que só perturba, como de facto já acontece, a riqueza, até agora inteira, do seu sabor de ambiente meridional.

Nos prolongamentos urbanos de Lagos, este uso da cor está a ser levado à exaustão e ao delírio. Mas não se nega a sua coerência com outras observações que esses locais merecem, mas que agora não se abordam. 

O que quer dizer que muitas outras, e importantes, questões hoje se levantam na Cidade de Lagos. Por agora, fiquemos nas cores dos edifícios da Cidade original (tenho extrema dificuldade em chamar-lhe Centro Histórico, cheira-me a solene velório, a mostruário do que foi e perdeu a vida).

Mas, pelo menos, esta questão é das que se resolvem sem traumatismos, nem sequer esforço.
Só sensibilidade. 

José Veloso, Setembro 2011

 
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