Sobre o «Livro Verde da reforma administrativa do Poder Local»
Derrotar o programa de subversão do Poder Local
defender os direitos das populações
1.O agora anunciado “Livro
Verde” (negro, e não verde se ao conteúdo se fizesse corresponder a cor) para a
reforma administrativa do poder local constitui um verdadeiro programa de
subversão do poder local democrático, uma nova e mais despudorada tentativa de
concretização da velha ambição dos partidos da política de direita de ajustar
contas com uma das mais importantes conquistas de Abril.
As
propostas agora anunciadas, acobertadas pelo programa de agressão e submissão
que PSD, CDS e PS subscreveram com a troika estrangeira, visam, ao arrepio da Constituição
da República, liquidar a autonomia das autarquias e reconstituir um modelo de dependência
e subordinação existente até ao 24 de Abril.
2. De
facto, com a inteira colaboração do PS e dando continuidade a orientações e
opções ensaiadas ou adoptadas em momentos anteriores, o governo prepara um
salto qualitativo na ofensiva contra o poder local democrático. Um ataque que
constituiria, a concretizar-se, a completa descaracterização dos elementos mais
progressistas e avançados do poder local, a liquidação do que ele representa
enquanto conquista de Abril com os seus elementos diferenciadores: um poder
local amplamente participado; plural, colegial e democrático; dotado de uma
efectiva autonomia administrativa e financeira; ocupando um lugar na organização
democrática do Estado não subsidiário, nem dependente do nível central. Este programa
de agressão ao poder local é, na sua essência e consequências, um programa de agressão
às populações e às suas condições de vida, um factor de constrangimento do desenvolvimento
económico e de agravamento de assimetrias regionais, de retrocesso da vida
democrática local.
3. Sob
um manto de falsidades e de formulações generalizantes, o pacote legislativo
hoje anunciado visa nos seus eixos centrais e em concreto:
- o
desfiguramento do sistema eleitoral com a eliminação da eleição directa das
Câmaras e a imposição de um regime de executivos homogéneos, ferindo
irremediavelmente não apenas as características plurais e democráticas hoje
existentes, mas sobretudo consagrando um regime construído sobre o poder
absoluto e a falta de controlo democrático, contendo em si mesmo ausência de
transparência e factores de corrupção. Um desfiguramento acompanhado ainda de
uma significativa redução do número de eleitos, lesiva do carácter
participado
e democrático do poder local. Em rigor, pode afirmar-se que o que agora é proposto
tem subjacente uma concepção que ainda mantém o princípio da eleição (embora irremediavelmente
limitada e amputada) mas que já não disfarça a ambição dos seus autores de impor um sistema de governação local que, à boa
maneira do fascismo, tratava de nomear
presidentes de câmaras e regedores para as freguesias, remetendo a gestão
política para os chefes de secretaria municipais;
- a instituição de um regime de finanças locais, assente numa
dinâmica de tributação adicional e penalizante sobre as populações, reduzindo
os factores de coesão e eliminando o princípio constitucional da “justa
repartição entre a administração central e local dos recursos do Estado”;
- a eliminação, de facto, da autonomia administrativa com a substituição
da tutela inspectiva por uma tutela de mérito e integrativa e a subversão do
actual regime de atribuições e competências, com a intenção de transferir
competências municipais para estruturas supra municipais, numa inversão
completa do que deve ser um efectivo processo de descentralização, a que as
regiões administrativas dariam também corpo. O que agora se reapresenta é a
repetição da reforma fracassada do então Secretário de Estado Miguel
Relvas (2003), uma intenção que não serve o poder local nem uma
efectiva política de descentralização. Antes constitui uma tentativa de despojar
os municípios de numerosas atribuições e competências, afastando ainda mais as
populações dos centros de decisão e diminuindo a sua participação;
- e ainda uma “reforma administrativa” que, com a eliminação de um
número significativo de freguesias e municípios, visa a redução substancial da
participação política, eliminar a proximidade entre os titulares de órgãos
públicos e cidadão e retirar expressão e força à representação dos interesses
locais.
4. O PCP dirige-se à população, ao
movimento associativo e outras organizações presentes na vida local, aos
eleitos em geral (incluindo muitos daqueles que pertencendo a outras força
políticas reconhecem e identificam o poder local com um espaço de promoção de progresso,
bem-estar e desenvolvimento), aos trabalhadores da administração local, aos patriotas
e democratas para que ergam a sua voz e manifestem a sua oposição aos
projectos de liquidação do poder local democrático, de mutilação
de princípios
constitucionais e de empobrecimento da vida e do regime democrático.
A Comissão Política do Comité Central do PCP reafirma o seu total empenhamento
na defesa de um poder local
com provas dadas na promoção dos interesses populares, assegurando
que os comunistas e os seus aliados na CDU, eleitos e não eleitos, intervirão
activamente para resistir e derrotar este projecto, reafirmando que, também
pelo que agora se conhece neste domínio, a rejeição do programa de agressão e
submissão constitui um imperativo nacional, na luta por um Portugal com futuro.
26.9.2011
A Comissão Política do Comité
Central do PCP
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