terça-feira, 12 de abril de 2011

DISCUTIR O TURISMO NO ALGARVE, OU O DIA SEGUINTE

DISCUTIR O TURISMO NO ALGARVE, OU O DIA SEGUINTE



Esta crise e abrandamento, até paragem, do turismo no Algarve, dá a esta discussão uma oportunidade que é indispensável aproveitar com lucidez e coragem. Eu sugiro que se defina o contexto da discussão com clareza, para o que situo o turismo algarvio no que chamo “o dia seguinte”. Esta ideia que surge-me do titulo dum filme sobre os efeitos de uma bomba atómica. Pois que a situação algarvia não faz muita diferença, em termos  de afectação estrutural, que não física, do que seria aqui uma bomba atómica. Quem quiser que lhe chame catastrofismo, e continue com a cabeça metida na areia..
Para começar, vamos parar com os cumprimentos indiscriminados ao que tem sido feito no Algarve. Já chega, falemos verdade, sem rodeios nem receios, vamos dizer, duma vez para sempre, que há que parar com os disparates que são o paradigma do Algarve. Que bem justificam a necessidade dessa coisa que parece que finalmente o País acordou para ela, e que se chama(rá) crime urbanístico.
Ora para esta a discussão não chega fazer perguntas. Nenhuma será novidade, teem sido feitas em abundância, mas a surdos. Repeti-las agora, teria sido patético, se não fosse tão desesperantemente urgente dar-lhes respostas.
Há que não hesitar em denunciar barbaridades como o ALLGARVE, como as classificações PIN avulso, como considerar o betão resposta privilegiada, e quejandas, Nem aceitar como boas as habituais adulações com retorno lucrativo garantido.
Por mim, fica bem esclarecido que, nos assuntos do turismo, não sou informado por nenhuma preparação específica. Sou, sim, movido por um arreigado amor por esta terra, e disponho de bagagem provinda do exercício da profissão nestes sítios desde os idos de finais da década de cinquenta do século passado, o que me chega para formar opinião, e propo-la  como contributo que digo  útil.
Como novidade, calcule-se, vou começar pelo princípio, isto é, tentando organizar um método não viciado de abordagem do problema, de modo a bem conhece-lo para bem o perceber.
Além disso, esqueçamo-nos de encarar o turismo apenas na costumeira óptica administrativa e gestionária de um investimento, como se de um banal produto comercial se tratasse. Esse é o desinformado erro dos nossos responsáveis, que tudo vêem na perspectiva economicista e do lucro do negócio turístico.
Ora o turismo não se pode colocar no mercado como se estivesse saindo dos stocks dum armazém ou duma fábrica. O turismo é um fenómeno sociológico, e uma vez que a sociologia é uma disciplina que, por si só, não resolve, nem pretende resolver, nada, ela limita-se a identificar e diagnosticar situações, e passa a busca da solução para o foro politico. O que estará certo desde que, evidentemente, nesta linha de raciocínio, ele abandone o tal puro economicismo mercantil, e para as soluções  parta da postura cultural, pois que é nela que tem origem qualquer comportamento social colectivo.
Ora o turismo, como qualquer outro fenómeno, tem as suas regras, e, situando-se estas no plano sociológico, portanto uma ciência não exacta, contem factores não totalmente planificáveis, e sujeitos à conhecida regra de que, uma vez resolvido um problema colectivamente sentido por uma sociedade, esta desencadeia logo outro, de localização não previsível, mas sempre de grau superior.
Assim aconteceu com o turismo.
No período subsequente ao final da II Guerra Mundial, verificou-se o reconhecimento dos direitos laborais e cívicos dos trabalhadores, em cuja reivindicação estava centrada, havia gerações, a sua atenção, e obtinha-se o direito a período de férias.   A satisfação destas necessidades, juntamente com o surgimento duma nova classe média desenvolta, fizeram desenvolver o pleno usufruto de férias em vilegiatura, para além de serem apenas um período de repouso e descanso, como eram vistas nos conceitos originais.
E assim, o turismo fora de portas, que até então fora reserva exclusiva para privilegiados de classe ou de conta bancária, passou a ser um direito alargado a todos os sectores sociais.
Hoje, o turismo é uma das três maiores movimentações mundiais de investimentos, ao lado do petróleo e dos automóveis, só suplantadas pelas industrias da guerra. Sem nos alongarmos  mais no detalhe destas definições, vejamos que, sendo uma questão social além de financeira e económica, o turismo não é estático, é causa e efeito acompanhando as dinâmicas das sociedades que o utilizam.
E assim, se, no inicio, as novas camadas sociais buscavam no turismo apenas satisfações muito básicas, no caso do Algarve a praia e o sol, à medida que estas passaram para o carácter de rotina  deixaram de ser suficientes, e as motivações  que hoje orientam as escolhas dos destinos turísticos deslocaram-se para outros planos.
 Naturalmente, como foi dito, as escolhas turísticas passaram a ser progressivamente mais exigentes. Já se situam, com clareza, ao nível do encontro de culturas, do conhecimento mútuo de povos, usos e costumes. Numa palavra, no trato entre identidades que se ignoravam, até se desconheciam, e buscam agora pontos de contacto e entendimento, no respeito pelas suas diferenciações.
Assim, o turismo nos nossos dias, vai muito, mesmo decisivamente, para além do interesse mútuo, entre visitados e visitantes, no plano das vantagens económicas, ou da simples curiosidade.
É aqui, no conhecimento e domínio deste fenómeno sócio-cultural, que os decisores sobre as estratégias das regiões e espaços com potencialidades e capacidades de resposta turística teem que se situar. É indispensável a perfeita consciência de que os fundamentos para essa resposta não se podem resumir ao resultado de análises estatísticas sobre números e percentagens, ou volumes de negócios e de divisas entradas e saídas, nem sequer situar-se nos meios de entretenimento e ocupação do tempo.   
A resposta turística dum local, País ou região, tem que ser, quási que exclusivamente, caracterizadora das autenticidades e especificidades próprias. São elas, e a sua qualidade, como valor absoluto, isto é, não condicionada por artificialismos de aparências ou luxos, que irão determinar os fluxos turísticos sustentáveis.
E esta consciência, e os estudos e medidas consequentes, cuja indispensabilidade e urgência se encontram nas posições assumidas pelo PCP, não estão a acontecer no Algarve.
Nem isso, nem, voltando ao princípio, a noção de que vai haver um dia seguinte.
José Veloso

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