ESCOLAS SEM ÁRVORES, NO CENTENÁRIO DA REPUBLICA
Convenhamos que o que aconteceu em Lagos, com o nome de comemorações do Centenário da implantação da Republica Portuguesa, não teve nada que ver com as comemorações que essa celebração merecia.
Convenhamos que o que aconteceu em Lagos, com o nome de comemorações do Centenário da implantação da Republica Portuguesa, não teve nada que ver com as comemorações que essa celebração merecia.
Em Lagos, o único Concelho do Algarve em que o apoio da população às ideias republicanas elegeu uma Câmara Municipal republicana em 1908, ainda durante a monarquia, o centenário da Republica teve, por parte da actual Câmara Municipal, pomposas entradas de leão, com comissariado, órgão oficial de comunicação, convites a cúpulas do Estado e da política, mas com deprimente saída de sendeiro (aliás, este percurso bem se aplica ao desempenho global desta Câmara). As grandiosas celebrações, vieram a resumir-se, além duns trocos, a uma conferencia para dormir, com música, a 15 € a entrada, uma inoperante mostra dos retratos dos Presidentes da República, e a inauguração de uma escola, perto do cemitério e do canil, sem corar de vergonha por tudo que nela está envolvido e escondido, desde o local, aos custos, ao nome da escola, ao aproveitamento da data.
Acentuo a menção a esta escola, porque, se a instrução pública era a primeira bandeira dos ideais republicanos na conquista da cidadania, isso não tem nada que ver com aquela escola. A formação cultural das elites republicanas, levava-as a estabelecer a diferença, até semântica, entre Educação Nacional e Instrução Pública, conceito este muito mais abrangente, levado até à consciencialização cívica do cidadão, para além da simples aprendizagem escolar. Para a República, a escola publica é parte da urbanidade, participante da vida e espaço público, instruindo alunos e população sobre o interesse do conhecimento mútuo acerca das coisas e da vida. Iniciando já aquilo que, mais tarde, pós-ditadura fascista, foi a proposta de inter-acção democrática escola/cidade, e cidade/escola. Tudo o que aquela escola, como outras destes últimos mandatos autárquicos locais, não representa.
Em Lagos, a minha terra, foi o obliterar daqueles belissimos conceitos republicanos, nessas ultimas escolas. Os tempos são diferentes, certo, as formas serão diferentes. Mas nunca as escolas deveriam ser como estão a ser feitas, escolas-ilhas no mar de asfalto, penetradas pela poluição sonora, ambiental, visual, do tráfego automóvel. Escolas reduzidas a edifícios entalados em terrenos exíguos, alheadas da vida da Cidade, rodeadas por vedações metálicas impositivas, até mesmo por fossos, sem exteriores didáticos ou pedagógicos, sem espaços de liberdade, de alegria, de prazer em estar na escola. Escolas sem relação com elementos da natureza, àrvores, sebes, arbustos, hortas e plantios, flores, sombras naturais. Estas escolas foram despejadas para locais sobrantes da especulação imobiliária, escolas onde os estudantes só entram para as horas das aulas, e logo fogem, escolas ignoradas pelas famílias, que só lá vão, em sacrifício, quando convocadas. Escolas que não cumprem a sua função social extra-curricular, nunca utilizadas para outras actividades da população. Escolas a que são dados nomes sem nada de pedagógico, que nada teem que ver com sugestões culturais e cívicas, com saber e conhecimento, com exemplos de cidadania, de dedicação à causa pública.
A República, os republicanos que a sonharam, o povo que nela viu a esperança, não estão a ter, nas novas escolas de Lagos, o reconhecimento que lhes é devido.
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